Ainda me lembro dos arrepios que a história me causava quando ma contavam há muitos anos. Recuso-me a repeti-la naqueles moldes, pelo que a reconto assim:
– Era uma vez um sultão velho, gordo, careca e teimoso lá da sua natureza, que mandava arrastar todas as noites para dentro da sua cama, a virgem mais linda do país. Nunca se soube bem para que queria a real besta uma inocente criança (eram todas imberbes), porque a todas mandava matar na manhã a seguir à entrega.
A mãe de uma das meninas, que já estava na calha para a real matança, resolveu subornar um dos eunucos e conseguiu observar a vil cena atrás de uma cortina.
Se os leitores estão à espera que a senhora tenha visto algum filme pornográfico ou afim, tirem daí o sentido, porque o sultão desatou a chorar assim que a menina entrou no quarto.
A criança, vendo o soberano naquele despropósito, ainda lhe disse «Senhor, porque chorais?», ao que o bigodudo respondeu «Ai minha linda menina, choro porque não tenho posses para te fazer maldades sexuais».
«Maldades sexuais?» disse a menina. «Não sei o que é isso, pois sou virgem muito pura». «Pois assim morrerás, minha linda», resfolegou o sultão, enquanto sorvia uma chávena de chá de hortelã. Ninguém pode saber desta minha desgraça» E apontava a região corporal, vulgo, baixo-ventre, que naquele caso era baixo-banha.
«Então, posso ir-me embora para casa de meu pai?» gemeu a inocente?
«Nãaaaaaaaaao, deves morrer, para que o povo não saiba jamais que o seu imponente sultão, de tão fartas carnes, com tão negra pelagem e tanto músculo, tem a pilinha de um menino de 2 anos e não pode com ela nem fazer mal a uma mosca».
A menina não percebeu nada daquilo mas a espia atrás do cortinado percebeu muito bem.
No dia seguinte lá mataram a menina e estavam as aias a catar a barba do sultão, quando de rompante lhe entra pelo jacuzzi uma mulher pálida como a areia do deserto e as mãos em garra.
Quando o sultão abriu a boca para chamar os guardas, a mulher lançou-se-lhe ao pescoço e apertou-lho com tanta força que mais uma torcidela e era uma vez um porco.
«Que queres, mulher soez?» resfolegava o obeso mórbido com pila de bebé. «Quero que acabeis com a vil matança das meninas virgens do nosso reino. Ainda se matásseis as feias e as putas, vá que não vá, agora as inocentes e as mais bonitas? Parais com tal vileza ou não parais?»
O sultão, sentindo-se falho de ar, roxo e já de língua de fora, gorgolejou «Sim, farei o que me pedes mas não podes contar a ninguém este meu segredo ou haverá uma guerra civil porque o povo não aceitará nunca ser governado por um sultão com mini-pila».
«OK.» Disse a valentíssima mulher. «A partir de hoje receberás uma menina nos teus aposentos e como não podes servir-lhe de esposo por causa dessa coisa raquítica que aí tens, vais sentar-te muito caladinho a ouvir todos os contos que a menina tem para te contar. Rirás alto, gemerás, roncarás como cevado que és e assim pensará o povo que és muito macho e que finalmente arranjaste mulher do teu zoilo calibre (quer dizer, uma porca). Tudo acabará em bem.»
«E tenho que gramar esses contos todos?» resmoneou o sultão, com o cachaço em papas e a língua roxa.
«Não. Passadas mil e uma noites exigirás aos editores da tua estúpida real casa, que publiquem em papiro de 1ª. os contos todos com o título de As mil e uma noites. Depois, deixarás a menina partir com uma cáfila ajoujada de ouro e ir à sua vida para bem longe desta carnificina». Torceu-lhe mais um bocadinho a real papada. « E bico calado, ou… todo o reino saberá a inutilidade da tua macheza, tá meu?»
E assim foi. O rei levou uma seca de bué de contos durante mil e uma noites. Consta que foi um horror, rasgaram-se-lhe os cantos da boca de tanto bocejar, os olhos descaíram a ponto de baterem nas asas do nariz e soube-se que morreu de pasmo depois do milésimo primeiro conto. Foi embalsamado só da cintura para cima, para resguardar o segredo da sua miséria genital.
Hoje ninguém se lembra do nome do malvado, enquanto a menina Xerazade ficou rica com os direitos de autoria dos horrendos contos e, claro, ficou famosa para todo o sempre.