Porto tinto de Moncorvo

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Na semana passada não escrevi a minha habitual crónica pintada de branco porque apanhei uma piela pintada de tinto.

Não fica bem a uma senhora da minha idade andar por aqui a confessar ao mundo os seus dislates báquicos mas uma mulher não é de ferro e às vezes apetece fazer um disparate e contá-lo para que cada um se cuide.

Como vivo numa casinha térrea, ainda me lancei pela janela fora mas caí dentro de um canteiro com cactos e roseiras, esmaguei os malmequeres, esfolei as pernas nas pedras que circundam o meu parco regréssimo e dei comigo feita num bloito rachado de alto a baixo rogando pragas a meio mundo.

Feitas as contas, eu tinha razão para estar desalvorida por dentro e por fora, razões essas que não me vou pôr agora a pormenorizar aos leitores porque não vos quero incomodar.

À laivosa que me pôs naquele estado, deu-lhe para se pôr a dar-me lições sobre a vida «devias fazer assim e devias fazer assado, és doida varrida, devias era estar na casa dos malucos. Vais e vais porque nisto não mandas nada» e para obviar o assunto meti à boca um Porto das terras de Moncorvo que me soube a pouco.

Resumindo e concluindo e por muito pouco que isto interesse aos leitores, eu sempre vou avisando:

1)    Não admitam que dentro da vossa casa, alguém fale mais alto do que a vossa pessoa;
2)    Não admitam que alguém vos ameace que vos vai internar numa casa de malucos ou outra instituição               qualquer;
3)    Não deixem de consultar um advogado que vos explique bem: como, quem e quando é que uma cidadã(o) – só porque tem mau feitio, alterações de humor, ataques de choro porque só vê merda (com vossa licença) em seu redor – pode ser internada contra a sua vontade nos espectaculares serviços de saúde mental que temos no nosso Portugal ou até num lar para criaturas senis.

Bem, já me passou a ressaca mas há aqui dentro uma chaga que não sei como vai curar.

E há um sentimento que se agiganta, chamado Terror, terror não de ficar velha e só, mas horror de ficar velha e enterrada viva num lugar onde se internam não os sem abrigo, mas os sem amor, os sem respeito, os que deixaram de fazer falta. Os que estão a mais nas famílias e nas sociedades a quem damos mais jeito mortos do que vivos.

Jl

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