A morte do escritor João Aguiar mereceu umas notas de rodapé nos telejornais, uns segundos da voz do locutor que reportou rapidamente que o escritor tinha morrido com um cancro.
Não se falou do homem, da obra que deixou, do valor que teve como jornalista, cronista e historiador. É um gozo lê-lo e dava gosto comprar a Super-Interessante só para ler os seus artigos.
Conheci o João Aguiar quando instalaram o teatro virtual no Parque das Nações em Lisboa.
Trabalhei com ele e outro escritor na elaboração de um guião sobre Camões. Ele era o coordenador da pequena equipa. Conheci-o através da empresa canadiana que teve a seu cargo aquele projecto.
Tenho as cópias todas dos emails que trocámos naquela altura, da finura que tinha no trato, da disponibilidade sincera, da simplicidade com que tratava uma Maria ninguém nestas coisas das letras.
Acabou por preferir os escritos do «outro», lá aproveitou duas ou três das minhas «bocas» e ficámos por ali. Fiquei furiosa com ele no fim do trabalho e mandei-lhe um email abrutalhado.
Mas continuei a seguir a sua obra, a ler os seus livros, a apreciar o grande conhecimento que tinha da história de Portugal e do Mundo. Ontem, ao ouvir a notícia apressada da sua morte, chorei de raiva. João Aguiar foi um grande homem de letras mas como era discreto e não cantava o fado nem jogava futebol, morreu sem direito a honras nem reportagens.
É que, durante este mês pode morrer meio mundo, podem matar o Cavaco, raptar o Saramago, cortar as orelhas ao Sócrates, cortar os subsídios todos aos funcionários públicos, aumentar o número de deputados para 1500, fechar as escolinhas todas lá nas brenhas…..que nada vai interessar a não ser aquela bola de plástico que é reina absoluta no «Trono do Altíssimo» (que poucos terão lido).
João Aguiar escrevia muitas vezes na paródia «Ó senhora minha, penso eu de que…». É assim, João, Virgílio Ferreira dizia qualquer coisa como «morre um escritor-enterra-se a obra».
Vou colocar os seus livros bem à vista nas minhas estantes e dizer-lhes «Bom dia João, já esqueci aquela birra com os textos para Camões. Viva você, viva a sua obra, desculpe-me aquele email, penso eu de que…».
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