Nada me ocorre a não ser a catástrofe nuclear no Japão, a catástrofe humanitária em África, sobretudo na Líbia.
No Japão, os homens foram bombardeadas por Deus durante uns minutos. Em África foram bombardeados pelo Diabo que não pára.
Abro a televisão, quero ver um noticiário que me diga como está aquela gente, vou num zapping desesperado à procura de alguém que me diga que algures, alguém vai fazer alguma coisa. Nos canais Portugueses apanho com o Benfica e o Jorge Jesus, o Sporting e o Porto e o Pinto da Costa e uns «médicos» a dissecar pela enésima vez o discurso do nosso PM e as «inverdades». O Mundo é dito à pressa ou em nota de rodapé… corre-se atrás do poder.
Passo aos canais ingleses e americanos mas alguns dos locutores parece que têm favas na boca e fico aflita para perceber alguma coisa, entre os ataques de tosse do meu marido e o ladrar dos cães que sentem mexer nos jardins dos vizinhos.
Desastre nuclear!
Guerra civil!
Refugiados com fome e frio e medo e doenças e – morte.
A bolsa de Tokyo cai a pique. O yen desvaloriza. A zona Euro agarra-se! O dólar segura-se!
As nossas televisões falam de défice: o monstro de grande boca. As crianças julgarão tratar-se de magia à Harry Potter, enquanto um holocausto nuclear paira sobre as nossas cabeças ocas.
Os terramotos não querem saber das suas vítimas, eclodem furiosos das entranhas de uma terra que os contém e nos contém a nós à superfície. E nós, a maioria, parece não ver mais do que essa superfície, muitos, infelizmente, o metro diante do seu nariz.
Hoje não consigo fazer humor, não sou capaz de tentar um texto consistente. Escrevo sobre um pântano, vivemos todos à beira da queda, teimosamente zangados, vorazes, enquanto o sol brilha e a Primavera se enfeita de flores para os nossos olhos.
E os olhos que se fecharam para sempre? Os que estão neste instante a fechar-se para sempre?
Uma senhora japonesa chora, órfã da sua família toda, filhos, netos, maridos, amigos. As lentes das câmaras apontam aquela parte do Mundo condenada a uma radiação mortífera, a uma morte lenta, a um sofrimento inenarrável?
Que se lixe o défice e os engravatados de Bruxelas. Deveríamos bater-nos por uma terra limpa, pelo estudo das técnicas de aproveitamento de recursos que substituam o maldito petróleo, o nuclear assassino.
MAS.
De Mas em Mas continuam os debates e sem Mas continua a morte a descabeçar uns na guerra, a semear cancros, oferecendo a fome em cestinhos de ossos ressequidos nos desertos sem água.
MAS: é preciso comprar Ipods e Ipads e trocar de carro e barafustar e gastar e desperdiçar e trocar a consciência pela alienação. É preciso contestar sem apreciar a bondade de estar vivo.