As flores já não são as mesmas.
Perderam as suas cores, os seus mil aromas, já não dançam ao vento como costumavam dançar naquele tempo. As pessoas deambulam sem energia pelas ruas, andam de uma lado para o outro desligados do mundo, muitas vezes sem saber o que esperar do dia de amanha, inundadas pela incerteza e pelo medo de perderem mais um pouco das suas vidas, das suas identidades. Os locais perdem o seu encanto, morrem com o tempo, morrem com as pessoas que não os alcançam, sem autorregeneração .
Vemos o mesmo, comemos o mesmo, rezamos o mesmo e falamos do mesmo, perdemos as nossas essências, perdemos o que faz de nós humanos, o Ser mais rico do planeta, do universo: a nossa diversidade.
E eu fico aqui, com medo do meu amanha, fico aqui neste cantinho. No escuro. Porque o Sol brilha lá fora… e eu fico aqui.
Porquê Sol? Porque teimas em nascer todos os dias em pompa e circunstancia, cheio de grandeza e esplendor, enquanto nós temos de ficar no escuro, na incerteza…
Porque vens tu, cheio de importância, sem nada nem ninguém que te faça parar?
Porque tens tu tanta força?
Quem me dera ser o Sol…
Nascer todos os dias, ver tudo e todos, ver o Universo, os seus planetas, as suas estrelas, a sua imensidão, como deve ser lindo…
Como deves estar tão feliz aí em cima… Mas agora reparo, não sei se o és, não te consigo ver, o teu brilho deixa-me cega, faz-me chorar sem querer, ou será que quero?
Quem me dera ser o Sol… Não, quem me dera ser o Céu: Todos podem passar por ele e nunca o rasgam, nunca o magoam.
Já sei quem quero ser.
Eu, e eu sou o céu azul, do mais azul que alguma vez se viu.
Filomena Pires
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico – convertido pelo Lince.