Uns e uns – não há “outros”, somos todos iguais debaixo deste Sol, essa é a verdade – vivemos como se num país de canto, dos fundos, uma espécie de quarto de hóspedes, que se esquece de ser grande quando lhe inculcam a pequenez em idade tenra. Sim, junto com o ABCD e com as papas… mas não lhes ensina a querer saber mais que aquilo, porque continua a não dar jeito.
Assim, sabe-se do Algarve pela visita a Albufeira, Vilamoura… e pensa-se que é assim o Algarve. E que todos no Algarve vivem com vista mar e bocha na praia. O Algarve não vive nas festas de Verão o ano todo. O Algarve é muitas coisas diferentes. Os hotéis e restaurantes de luxo pertencem a grupos internacionais. Aqui há médias e pequenas empresas, pouca agricultura e cada vez mais escassa pesca. E turismo, três meses por ano e alguns fins de semana. Mas é grande porque tem a sua cultura, dentro de pequenas culturas. E tem pessoas. E recursos naturais fantásticos, senão não havia turismo… nem vontade, nem hospitalidade, nem tradição ou experiência cultural visitável.
E agora, a juntar a esses recursos parece que há petróleo e gás natural para explorar! Quer dizer: as casas das pessoas “prejudicam a Ria Formosa”. Uma plataforma de exploração de petróleo, ou gás natural, ou ambas, não longe da costa, não carece de estudo ambiental. E se o há está escondido. Estão a vender-nos a todos. Não aos outros. A nós. Todos. Mais perigoso que o glúten, que agora é moda evitar nos alimentos, como se fossemos crianças de berço, são as ideias de pequenez que nos servem com as papas, quando estamos de goela aberta de choro. O ABCD não chega e as demolições são atos de terrorismo nas comunidades.
Selma Nunes