A verdade é que nem sempre o que escrevemos é para sair assim, sem casaco, à rua, quando as temperaturas estão tão baixas. É exatamente como aquilo que dizemos.
Às vezes digo coisas sem jeito. Sem casaco. Há assuntos que às vezes, por falta de tempo, paciência, por estar aborrecida com outra coisa qualquer, saem mal ditos, com o tom errado, no frio dos frios polares saem desagasalhados, sem luvas, cachecol e constipam-se, ficam trémulos de uma saída injusta e infiel. Quem não tem dias desses? E depois lá tem de se pedir desculpa pelo não dito, mas mal compreendido, porque mal falado.
Nesta crónica eu ia mostrar o meu desagrado para com os parquímetros de Olhão, que ao contrário de Faro, são vigiados pela nossa Polícia de Segurança Pública. Não me parece justo que a ausência de um bilhete seja digna de uma multa de estacionamento, pela PSP, valor três vezes mais alto que a ausência de bilhete em Faro. Desengane-se, o leitor, pois não fui multada. Mas… não será errado e um pouco desprestigiante para a autoridade andar a vigiar parquímetros, com tantas ruas complicadas em Olhão? Mas eu tenho algum receio em falar nisto, até porque se calhar não tenho toda a informação e poderei estar a ser injusta. Parece-me, simplesmente, desapropriado e espero que ninguém se zangue (muito) comigo por isto. É um reparo ao exagero e não se compreende o desajuste entre uma cidade e outra, tão perto.
Contudo, resolvi não escrever sobre esse assunto. Porque senti que a crónica sairia para a rua sem roupa suficiente e receio que se constipe. É um flagelo, a gripe, nesta altura do ano. E sorrindo, conto-lhe este segredo. Na vida real, é o cordeiro que tem de se vestir de lobo. Espero que a minha crónica não se constipe. São os vícios de uma desbocada. Ainda bem que não escrevi sobre isso.
Selma Nunes