Parece que vai tudo pelo ar, disseram-me. Se fosse, nem reagiria, graças ao estado de fraqueza muscular. Assim, no conforto do lar a sentir-me ridiculamente desconfortável, penso em mil e uma coisas que noutra altura qualquer nem teriam direito de antena consciente. Inspiração febril e sem sentido.
O ano que passou foi um ano de grandes transformações e mudanças. Como todos. A herança do ano passado é pesada como chumbo. A crise europeia era económica, passou a ser humanitária. As casas dos ilhéus não foram abaixo. A Pólis foi renovada e ainda não percebi bem porquê, ou como. Cheira a chuva. Vendaval na costa. Gaivotas em terra. O governo foi eleito e caiu. Um acordo à esquerda a fazer história em Portugal. E parece que a sair-se muito bem. Faro vai ter uma rua com controlo de velocidade. Não sei se os buracos vão ser arranjados. A EN125 continua em obras. Por este andar preciso de um jipe. Nota: não tenho como sustentar um jipe.
A ameaça do terrorismo. O terrorismo. A ameaça dos que dizem que lutam contra o terrorismo. Os que fazem terrorismo e dizem que não gostam de terrorismo. O que me aterroriza. A falta de humanidade. Os pobres dos animais. As novelas. Um jogo de futebol que dá discussão para uma semana inteira, com direito a vinte comentadores diferentes.
Aquecimento global. Uma aquacultura com argumentos ecológicos e que de preservação nada tem senão o argumento falso. Um facebook cada vez mais sanguinário. Perdemos o juízo? Onde meti os comprimidos? Onde estão os meus lenços? Onde fui apanhar esta gripe? Porquê eu? Que dia cinzento. Janeiro está cinzento, mas tenho esperança. Dói-me os olhos. Este ano vai dar trabalho. Que seja daquele que faz falta a tanta gente.
Que dia cinzento! O senhor dois mil e dezasseis tem muitos assuntos a resolver. Atchiiim. As lesmas têm quatro narizes. Só um já dá tanto trabalho! Cuidado com a gripe deste ano. É forte. Danadinha.
Selma Nunes