J’écris – o que nunca te direi

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aveJ’écris pour toi… et ao fazê-lo j’écris pour moi sim, aussi. Estás a chegar. Vens de todo o lado. Tens sede de água salgada. Fome de areia dourada e de calor apertadinho junto à pele. Cuidado com isso, que é perigoso. Queimas-te e dói. Sunburn.

You arrive and nós desdobramo-nos to speak, pour parler, simplesmente hablando. Alguns de nós sprechen, que é a loucura também. E fazemo-lo com todas as ginásticas possíveis ao palato, para acertar nas pronúncias, rápidos como leitores de mp3 com as baterias de lítio carregadas, cheios de luzinhas, aplicações e coisas geniais que te façam apaixonar por este nosso cantinho que te recebe. Para te agradar.

Quando essa parte corre bem (o que acontece na maioria das vezes) abrirás a tua boca de espanto, e surprise… perante a magia de cenário que se desenrola diante de ti. Como se nunca tivesses visto nada tão deslumbrante e maravilhoso comparado a este recorte de mar azul profundo e tépido que se enrosca amorosa e calmamente na areia perfeitamente dourada. Se estiveres a Oeste, terás escarpadas falésias em posição de mergulho eterno no oceano. Se andares por Este, tens a pacífica Ria Formosa e toda a vida que dela brota.

Na serra, estarás provavelmente num sítio com condições, a deleitar-te com os prazeres da nossa meia fake rusticidade (feita para ti, ou pensas que os nossos avós penduravam estribos no candeeiro da sala e usavam rodas de carroça nas paredes, como se fossem quadros?). Ah, e as oliveiras no horizonte! Só te escrevo isto porque não vais ler.

Nunca me ouvirás dizer isto e se perguntares nego tudo. J’ écris pour toi et pour moi, não to posso dizer, mas tu tens o direito e o dever (enquanto ser humano e pensante) de saber. Vão explorar combustíveis fósseis, sabias? Os papers já estão assinados. Tudo muito caladinho. Está tudo contre mas parece que vão prosseguir. Fracking. No teu país é proibido, sei.

Na opinião de toda a gente, vão acabar com aquela beleza mágica que te motivou a vir. E depois, nem que nos desdobremos em mais sete línguas diferentes. Nem que tenhas sempre razão. Ninguém quer visitar paisagens destruídas – bem, a não ser alguns elementos de gosto duvidoso e repórteres de guerra.

Por falar em guerra, sabe-se lá o que acontecerá às outras já tão massacradas atividades económicas originais. C’est dommage, non? Mas isso, não posso contar, porque não quero que fiques triste e lá te estrago as férias. Por enquanto ainda somos o paraíso. Para além disso, tenho francamente medo de te contrariar, pois és sensível como os mercados em crise. Understand?
Por tudo isso, j’ écris pour toi et j’ écris pour moi… e os contratos de combustíveis… deviam ser rasgados já. Pas ça cá no Algarve, pá.

Selma Nunes

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