Não é varina, nem usa chinela, não serve nem para alimentar as garças. Não se passa nem à vela e não enche sequer uma canastra. Podia começar assim, se o David Mourão-Ferreira lhe tivesse dado para aí e se na altura existisse. Chama-se Área Piloto de Produção Aquícola da Armona (APPA Armona).
Um nome pomposo assim semeia nas mentes menos esclarecidas a ideia de um “cluster” aquícola exemplar, o primeiro de muitos, onde se utilizam as melhores tecnologias, saídas das “start ups” em casulo universitário, com a formação e a preparação de excelência que se quer como exemplo para o país, cabazes de projectos empreendedores que trouxessem às nossas águas renome aquícola. Por isso, está protegida por lei. As mãos da pesca artesanal não se podem nem aproximar.
Contudo, não passa de um nome jeitosinho para exemplificar o que de pior se faz da utilização e planeamento do espaço público, neste caso marítimo. E é o quê? Um empecilho subsidiado por fundos a que muitas empresas gostariam de almejar e não conseguem. Não cria postos de trabalho – tira-os. Produz zerinhos à esquerda. Este “cluster” de bóias abandonadas é, além de inútil, um empecilho a quem faz vida do mar e tem de gastar mais combustível para passar, pois não pode pescar ali e um estorvo para a navegabilidade. Os pescadores manifestaram-se e com razão. Um nome pomposo não tapa a inércia e o abandono a que está sujeito. É um emaranhado de cordas que nos embaraça, atrapalha e que de uma maneira mais prática, asfixia a economia e a pesca artesanal.
A APPA Armona está abandonada e protegida por lei como se estivesse a funcionar em pleno. Os pescadores não podem estar ali.
É, no fundo, um espaço que corrobora a má utilização, a ingerência da atribuição de fundos e subsídios que deveriam estar a apoiar projectos que potenciassem o crescimento e melhoria de condições de vida e trabalho para todos. As bóias abandonadas são o símbolo da apatia executiva que nos faz andar todos à deriva.
Selma Nunes