Toda a gente sabe que os programas de ensino são iguais, gerais, e supostamente indiferenciados, independentemente do local onde se habita. Como tal, os miúdos passam muito tempo a aprender o geral, desconhecendo o que existe à sua volta e talvez, por conviverem todos os dias no meio, fosse mais interessante conhecer mais do local onde vivem.
Neste âmbito, são de louvar todas as actividades e programas extra curriculares de cariz pedagógico que possam ser providenciadas. Eu cá sou sempre a favor de parcerias interdisciplinares. É o caso da parceria entre a Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC) e o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) no seguimento do projecto “ADOPTE uma Pradaria Marinha” iniciado já há alguns anos.
As crianças, estudantes na Ilha da Culatra, com a orientação da Dr.ª Dora Jesus, bióloga, têm aprendido imenso ao adoptar a pradaria que é uma das mais importantes a nível nacional, pelo seu estado de conservação. Assim, simultaneamente conquista-se a atenção das gerações futuras para a preservação do ambiente, neste caso, das ervas marinhas na Ria Formosa, do qual depende a própria comunidade.
A importância da missão é reveladora, tendo em conta que as pradarias marinhas são dos sistemas mais produtivos da biosfera, melhoram a qualidade da água, diminuem a erosão costeira, estabilizam os sedimentos e ainda promovem habitat para outras espécies vegetais e animais, proporcionando abrigo e alimento, sendo muito importantes para a reprodução também. Sim, estou a falar de cavalos-marinhos, de marinas, de chocos, pepinos do mar, entre outras espécies. E não acaba aqui, tendo em conta que são importantíssimas para a fauna dunar.
Os miúdos entusiasmaram-se com os novos conhecimentos e acabaram a ganhar prémios pelas ilustrações que fizeram, pelas mãos do ilustrador científico Pedro Salgado, vendo assim recompensado o interesse e dedicação ao projecto.
De parabéns, a meu ver, está a parceria que deve durar, por ser benéfica para a sensibilização e educação dos miúdos que vivem com uma das mais importantes pradarias marinhas à porta de casa, e também no sentido de se assegurar a sobrevivência de uma das mais carismáticas comunidades piscatórias do país, através da educação e do despertar das consciências.
Parcerias multidisciplinares e a troca de conhecimentos enriquecem sempre… e para escrever esta crónica, fiquei, também eu, mais rica e informada. Partilho, assim, com quem lê a “Solta-mente” o que aprendi, pois é a partilha de conhecimento que faz girar o mundo, desde sempre e que na grande maioria das vezes nos torna seres melhores, mais úteis, mais interessantes. Desta vez não reclamo de nada: aplaudo.
Selma Nunes