Basta que se leiam os cabeçalhos das notícias regionais para percebermos que a região está a trabalhar muito e bem, mostrando qualidade, excelência e resultados positivos em muitos sectores, exceptuando o dos transportes públicos.
Os algarvios estão a fazer mais e melhor. A nossa produção regional ganha prémios – a título de exemplo veja-se o vinho algarvio que até há bem pouco tempo, pouca ou nenhuma visibilidade tinha e agora já arrecada prémios nas feiras e provas de vinhos por aí fora.
O golfe na região representa 70% do total de voltas nacional. Cresceu. Os municípios abraçaram os eventos, de mãos dadas com iniciativas privadas, públicas, associações e grupos de cidadãos. As ideias andam à solta. A cultura está a ter público. A gastronomia está na moda e poderá facilmente saltar dos bastidores de complemento para passar a prato principal e até o desporto anda em grande.
A maior falha continua a ser, na minha opinião, os transportes públicos. Temos dunas de ouro nesta região, praias dignas de um “remake” da “Lagoa Azul”, eventos para todos os gostos e idades, um exaltamento do património cultural material e imaterial como nunca antes visto, mas a população não consegue deslocar-se de transporte público a lado nenhum sem uma ou outra anedota.
Os preços do bilhete de autocarro são uma piada de mau gosto, tendo em conta que não há serviços suficientes. A linha de comboio vai de Vila Real de Santo António até Lagos, como se Sagres não existisse, por exemplo. O interior certamente não existe. Não há estação viável em Albufeira, onde temos o maior número de camas e provavelmente, trabalhadores a necessitar de transporte público.
Muitos terminais, quer rodoviários, quer ferroviários estão fora dos centros urbanos, ou simplesmente, são uma espécie de apeadeiros decrépitos sem horários ou carreiras afixadas… e já nem vou relatar as supressões de fim de semana e feriado, ou as horas a que deixam de haver transportes, que não são compatíveis com os horários de trabalho de uma região cada vez mais voltada para as actividades turísticas.
E para quando verdadeira mobilidade na região algarvia? A EN125 é uma estrada de morte, a A22 sai caríssima e os transportes públicos… talvez numa manhã de nevoeiro, com o D. Sebastião a bordo. Valha-nos o santo aeroporto, o santo “transfer” e a santa boa vontade. Porque quem se sujeita a isto calado só pode ser gente de muito boa vontade, seguindo arrecadando prémios de excelência, movendo-se com a sola do botim de evento em evento e sorrindo, sempre, por mais um ponto percentual no sucesso da região.
Selma Nunes