Vim escrever para a rua. Estou sentadinha numa das muitas esplanadas da Marina de Olhão, a contribuir para a gordurinha abdominal, enquanto as pessoas fazem as ditas caminhadas de fim de tarde. Eu própria as faço, às vezes, mas hoje é um dia diferente.
É um dia diferente, em primeiro lugar, porque estou de férias. Em segundo lugar, porque é sempre bom estar de férias quando temos as quatro estações num dia só. A chuva da manhã foi refrescante, o sol da tarde aqueceu os sentidos e este ventinho outonal… saca a paciência a qualquer pessoa.
E em terceiro lugar: todos os dias ouvimos frases nas quais ficamos a pensar, recorrentemente. Às vezes elas flutuam-nos entre uma orelha e outra até à exaustão, outras vezes, as malandras fogem-nos das mãos e voam com o vento, para regressar mais tarde, em muitas outras formas. Ontem, disseram-me que temos de viver no presente e viver bem.
Isto pode parecer recorrente. Na realidade… é. O famoso “carpe diem” que andou nas bocas do povo. O que me foi dito era que no fim, acabamos reduzidos/ reduzidas a uma simples foto no móvel de alguém, com sorte. E depois, mais nada.
Isto martelou-me o dia todo. Ainda por cima de férias, quando a mente foge para lugares inóspitos, nesta Gronelândia algarvia, em que nunca mais faz bom tempo para ir à praia. Tomei a decisão de ir amanhã. Se chover, vou na mesma. Assim, se tiver a sorte de ir parar em cima de uma estante qualquer, vou de bikini.
Como deve ser notório, não estou a conseguir reclamar de nada. Ainda não chegou aquele mês em que as pessoas, mesmo de férias conseguem maldizer tudo. Por isso escolhi este mês. O sol está a usar uma nuvem como pijama para se ir deitar sob a Ria (também tem frio) e este dia, tal qual a crónica desta semana chegou ao fim. “Reclamar faz mal à vesícula”, dizia a música. É verdade. Não faça como eu. Caminhe ao final da tarde.
Selma Nunes