Lagos | A Costa Vicentina de João Mariano

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O forte sentimento de pertença que o Mar d’Estórias tem pela Costa Vicentina é partilhado, vivido e captado pelo fotógrafo João Mariano que, durante vários anos, tem dedicado o seu trabalho a captar os recortes das falésias, a fúria do Atlântico, os pormenores da natureza e os costumes deste pedaço de paraíso que é a Costa Vicentina.

João Mariano sente e vive a Costa Vicentina de uma forma exclusiva, através da lente da sua máquina fotográfica. Cresceu num “lugar para gente paciente”, como diz, e fez da Costa Vicentina o seu lar, para que os seus filhos também aprendam a importância deste sítio e das suas raízes: “tudo o que sempre quis foi dar-lhes um pouco daquilo que tive na minha infância”1.

Este fotógrafo, director de arte e editor de fotografia é, ainda, CEO da agência 1000olhos – Imagem e Comunicação. Desenvolve trabalhos entre Aljezur e Lisboa, muitos relacionados com o Sudoeste de Portugal.

O seu testemunho e compromisso com esta região está invariavelmente presente na longa e profunda homenagem feita através do livro Costa do Mar. Este é um inventário fotográfico que conjuga, de forma sagaz, uma nova edição de textos e fotografias da região. Um novo olhar sobre “um Sudoeste genuíno e irrepetível”1 de gentes, paisagens e actividades ligadas ao mar e à terra, composto por cinco capítulos. Quatro destes capítulos redescobrem imagens de anteriores livros e o último, baseado no levantamento fotográfico para o Museu do Mar e da Terra da Carrapateira, apresenta imagens inéditas dos portinhos do Forno e da Zimbreirinha (entretanto desaparecido):

Guerreiros do Mar (1997-1998), retrata a vida dos percebeiros que enfrentam a violência das ondas do mar apenas com uma arrelhada na mão – é pelo sabor do mar “que estes homens se batem numa luta desigual, sem tréguas (…)”2.

Lugares Pouco Comuns (1993-1999), são, aqui, imortalizados pelas fotografias a preto e branco de João Mariano. Uma contemplação às escarpas esculpidas pelo mar e aos pormenores geomorfológicos: “Já caminhei desde a foz do Rio Seixe até ao Cabo de São Vicente (a mais memorável caminhada (…) de cinco dias inesquecíveis)”1, comenta João Mariano.

Alambiques e Alquimistas (1997-1999), capítulo de homenagem aos aguardenteiros, na destila do Medronho. Um retrato dos rituais nas antigas destilarias de aguardente de medronho: “O velho alambique de cobre é capaz de grandes feitos mas é preciso respeitar os rituais com rigor” 3.

Trabalho de Fundo (1998-2000), é um projecto sobre a apanha subaquática de algas no Sudoeste Português. Capta os limites físicos dos apanhadores de limo na labuta diária de horas submersos no mar: “É um esforço enorme, em circunstâncias a que o ser humano não está por natureza habituado”4.

– O capítulo do Museu do Mar e da Terra da Carrapateira (1998-2001), engloba fotografias que testemunham como os pescadores se adaptaram às forças do mar através da criação de embarcadouros de abrigo – como o portinho do Forno e o da Zimbreirinha. Do proveito dos conhecedores em tirar sustento da baixa-mar com a apanha de lapas, burriés, polvos e ouriços: “Pescadores experientes, calcorreiam vezes sem conta estes caminhos, conhecendo-lhe os recantos mais escondidos”5.

Toda esta colecção, agora compilada no livro Costa do Mar, proporciona uma riquíssima viagem geográfica e antropológica pela Costa Vicentina. Este é um legado único de preservação do património local e de reconhecimento da nossa identidade, que o Mar d’Estórias apoia inequivocamente. No Centro Cultural de Lagos, sábado, 15 de Setembro, pelas 18h, terá a oportunidade de descobrir, ou redescobrir, um pouco melhor esta obra e conversar com João Mariano.

1 Citação de João Mariano no documento de apresentação do Livro Costa do Mar.

2 Citação do Livro Costa do Mar, Guerreiros do Mar.

3 Citação do Livro Costa do Mar, Alambiques e Alquimistas.

4 Citação do Livro Costa do Mar, Trabalho de Fundo.

5 Citação do Livro Costa do Mar, Museu do Mar e da Terra da Carrapateira.

Fonte: Filipa Glória (Mar d’Estórias)FotosJoaoMarianoFotosJoaoMariano1

 

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