A investigadora brasileira Liliane Sanchez esteve recentemente no Colégio Internacional de Vilamoura para conhecer o trabalho desenvolvido na área de Filosofia para Crianças e Jovens. A docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro deslocou-se a Portugal para, de Norte a Sul, contactar com exemplos de boas práticas e metodologias de trabalho.
Liliane Sanchez é professora de Filosofia da Educação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ministra a disciplina Tópicos Especiais em Filosofia Para Crianças aos alunos das licenciaturas em Pedagogia e Filosofia. A par desta atividade, coordena um projeto de extensão universitária, nascido em 2015 com o apoio do Ministério da Educação, chamado “Os filósofos-mirins: oficinas de filosofia na educação fundamental” numa escola pública do município de Seropédica/Rio de Janeiro.
A sua visita surge no decurso de uma das três áreas de abrangência do projeto, a investigação (a par das aulas e da extensão), e tem como objetivo “observar várias metodologias adotadas na Filosofia com Crianças por vários profissionais em várias escolas espalhadas pelo mundo”.
No Colégio Internacional de Vilamoura Liliane Sanchez observou algumas aulas de Filosofia para Jovens no 1.º, 2.º e 3.º Ciclos. Estiveram envolvidas nesta iniciativa as professoras Laurinda Silva, Helena Neto e Fernanda Silva. A disciplina existe no plano curricular do CIV de forma pioneira há 21 anos, em todas as turmas do Jardim de Infância ao 9.º ano de escolaridade, entendendo a direção pedagógica desta escola de ensino internacional que “a Filosofia é uma prática pedagógica que que se propõe desenvolver as capacidades de raciocínio, da criatividades e do pensamento em geral (concetualização, comunicação, autoavaliação), essenciais ao desenvolvimento das crianças. Constitui ainda uma prática que promove uma verdadeira comunidade de comunicação e de aprendizagem dentro da sala de aula, levando os alunos a viver experiências muito significativas ao nível cognitivo, social e afetivo.”
“O encontro entre profissionais da área é sempre profícuo, dada a partilha de experiências e o tempo dedicado à crítica, que envolve sempre o espírito de melhoria”, referiu a professora de Filosofia Laurinda Silva, no CIV desde 2011 e facilitadora de Filosofia para Crianças desde 2007.
“Em situação de inquérito acerca do impacto da Filosofia para Jovens”, acrescentou, “os alunos reconhecem a importância deste tempo semanal, nomeadamente por conseguirem: avaliar melhor a qualidade de uma ideia, exporem as suas ideias de forma mais clara e confiante, aprender arespeitar as decisões dos outros ou reconhecer que não têm razão. Todas estas respostas são da maior importância mas realço as duas últimas por se implicarem diretamente com a formação ética da pessoa, temática que precisamente a investigadora Liliane Sanchez aborda na sua tese de doutoramento.”
“Domínio de turma”, “tentativa de construção na relação das respostas entre os alunos” e a fuga “à estratégia de perguntação” foram alguns dos aspetos mencionados por Liliane Sanchez a algumas das aulas observadas. “Gostei muito de ter assistido a aulas que se iniciam com um pequeno momento meditativo usando a taça tibetana, como no México”.
Depois da realidade mexicana, “país onde a Filosofia é levada a turmas muito desfavorecidas” e onde Liliane Sanchez visitou três pequenas escolas com modelos distintos, nomeadamente construtivistas e tradicionais, a investigadora visitou a Colômbia e a Holanda, privilegiando sempre o intercâmbio de ideias e experiências entre os profissionais do ensino de Filosofia.
Foi na década de 90, no decurso da sua dissertação de mestrado na área que se cruzou com a Filosofia para Crianças. Entre 2000 e 2003 dedica um capítulo à Propedêutica do professor norte-americano Matthew Lipman no seu doutoramento e frequenta o Núcleo de Ensino de Filosofia e Infância (NEFI). Em 2014, cria o seu projeto de Filosofia para Crianças “com uma escola da rede pública num ambiente desfavorecido” onde trabalha a dimensão teórica e prática da Filosofia para Crianças e coloca em prática alternativas ao projeto de Lipman. “Propor que uma matéria seja universal é propor uma desfilosofização da proposta, é cortar a liberdade de cada um e não olhar para as especificidades locais”, refere Liliane Sanchez.
“Filósofos-mirins” tem agora três anos e é um projeto de extensão que conta com uma bolsa e seis alunos universitários voluntários que se encontram a fazer uma avaliação dos dois primeiros anos do projeto. “O ideal”, para Liliane, “seria ensinar todas as disciplinas filosoficamente, com uma dimensão transdisciplinar, uma alquimia filosófica!”.
Fonte: CIV