Humana recolhe 2.875 toneladas de têxtil usado em Portugal para dar-lhes um fim social.
- A recolha seletiva de têxtil permite uma poupança significativa às administrações locais. A Associação assume o custo deste serviço com o intuito de promover a proteção ambiental.
Humana Portugal, associação sem fins lucrativos que, desde 1998, trabalha a favor da proteção do meio ambiente através da reutilização têxtil e realiza tanto programas de cooperação para o desenvolvimento em Moçambique e na Guiné-Bissau como de apoio local em Portugal, recolheu 2.875 toneladas de têxtil usado em Portugal no ano de 2018. Este registo equivale a aproximadamente 6 milhões de peças de roupa que têm uma segunda vida graças à reutilização e à reciclagem. No entanto, as doações dos portugueses estão longe das metas impostas pela União Europeia (UE).
Em Portugal desfazemo-nos anualmente de 195.000 toneladas de roupa usada, mas apenas uma pequena parte se recolhe seletivamente por uma entidade autorizada para promover a sua reutilização ou reciclagem. Estes valores estão bastante longe dos 55% fixados pela UE, para o ano 2020, no que diz respeito à reciclagem de resíduos municipais. A Comissão Europeia deixa um alerta a Portugal e a outros 13 países sobre o risco de incumprimento deste objetivo: “Necessita fazer mais para que a cidadania e a economia possam beneficiar-se da economia circular”.
Depois dos resíduos orgânicos, das embalagens e plásticos; do papel e cartão, do vidro, o resíduo têxtil é a quinta fração que os portugueses mais geram e a que representa a percentagem de valorização mais alta – mais de 90%. Daí a importância de consciencializar a administração pública bem como a população para a necessidade da separação de resíduos. O facto de presenciarmos a crescente importância da economia circular, que define os resíduos como recursos, e o facto da recolha seletiva têxtil, em 2025, ser obrigatória por exigência da UE, uma competência que é municipal, tem vindo a incentivar ainda mais a nossa actividade.
Componente social
“Na Humana aplaudimos o trabalho dos municípios que promovem a recolha seletiva de têxtil”, refere Filipa Reis, promotora nacional da Humana Portugal, “e insistimos na importância de impulsionar um modelo de gestão sustentável que priorize a componente social”. “As administrações locais devem entender que têm um compromisso a cumprir no prazo de seis anos. Todas as partes implicadas devem redobrar os esforços para aumentar os valores de recolha seletiva, não só para respeitar o objetivo imposto por Bruxelas como também para potencializar o benefício ambiental e social da roupa usada”, acrescenta,
“ A Humana fortalece ano após ano o seu compromisso com a cidadania, baseado na transparência da gestão e seguimento dos resíduos graças a estritos mecanismos de controlo e a confiança em que as doações se convertem em recursos para os nossos fins sociais”, assegura a promotora nacional da Associação, “o nosso modelo funciona porque apostamos por um modelo circular para o têxtil, geramos e lutamos contra a pobreza mediante os nossos projetos de cooperação ao desenvolvimento”.
As peças de roupa e calçado recolhidos pela Humana procedem dos contentores verdes distribuídos por Portugal inteiro graças aos acordos com mais de 150 Câmaras e entidades privadas. Neles são depositados roupa, calçado, complementos e têxtil de lar que já não se utilizam para dar-lhes uma segunda vida. O serviço de recolha de têxteis é gratuito e representa uma poupança significativa nos gastos de recolha e tratamento dos resíduos urbanos.
O benefício ambiental
A reutilização e a reciclagem de têxtil contribuem para a poupança de recursos, a proteção do meio ambiente e a luta contra a mudança climática. Reduzem o desperdício em depósitos controlados e usinas de incineração, e consequentemente, a emissão de gases de efeito estufa. A Comissão Europeia calcula que por cada kilo de têxtil reutilizado e não incinerado evitamos a emissão de 3,169 kg de CO2. As 2.875 toneladas recolhidas em Portugal em 2018 representam uma poupança de 9.111 toneladas deCO2 para a atmosfera, coisa que o planeta agradece. Equivalem à emissão anual de 3.436 carros (que circulem 15.000 km anuais) ou à absorção anual de dióxido de carbono de 68.605 árvores.
Hierarquia de Gestão de Resíduos
O vestuário depositado nos contentores da Humana é enviado para os centros de classificação (em Espanha) e posteriormente é distribuído da seguinte forma:
- 61% é preparado para reutilização: 15% é enviado para as lojas secondhand (de segunda mão) da Humana em Portugal e 46% corresponde a roupa de qualidade que se exporta, principalmente para África, onde é vendida a preços muito reduzidos, impulsionando assim a criação de novos recursos de cooperação ao desenvolvimento.
- 29% não se encontra em estado que permita a reutilização pelo que é vendido a empresas de reciclagem têxtil.
- 1% são resíduos impróprios (plástico, cartão, etc) são enviados para os gestores autorizados correspondentes
- 9% tratam-se de resíduos que não se podem reutilizar, reciclar ou valorizar energeticamente, sendo estes enviados para um centro de tratamento de resíduos de forma a serem eliminados.
A roupa como motor de cooperação para o desenvolvimento, apoio local e sensibilização
A gestão sustentável do resíduo têxtil permite-nos obter os recursos necessários para investir em iniciativas sociais. Depois de mais de duas décadas de atividade, 13 milhões de pessoas beneficiaram dos programas de desenvolvimento da Humana nos países do Hemisfério Sul, através de doações e colaborações locais. Estes programas de cooperação na Guiné-Bissau e em Moçambique são desenvolvidos em zonas rurais com altos níveis de pobreza, promovendo um crescimento sustentável e a melhoria das condições de vida junto das comunidades onde operam. A Humana destina cada ano mais de 105,428€ para a formação de professores de educação primária, impulso da agricultura sustentável ou de luta contra o HIV/SIDA, entre outras ações. A valorização da roupa permite igualmente criar recursos, que em conjunto com as entidades públicas e privadas com quem estabelecemos parcerias, são destinados a iniciativas de sensibilização e de apoio local em Portugal.
Sobre a HUMANA Portugal:
A HUMANA Portugal é uma associação sem fins lucrativos que trabalha, desde 1998, a favor da proteção do meio ambiente promovendo a reutilização têxtil e realiza programas de cooperação de desenvolvimento em África e de apoio local em Portugal.
(http://www.humana-portugal.org/index.php?id=1)