A impaciência é como uma bolha de ar presa dentro de água. Vai subindo, unida pela matéria aquosa, com mais velocidade que uma gota de chuva desce um vidro inclinado.
Quando chega à tona dispersa-se em todas as direcções. Ploc! Sacode-se dos restos de líquido que arrastou para cima, disturbando tudo ao seu redor. A pouco e pouco essas bolhas aumentam e arrepelam caminho até que a harmoniosa superfície aquosa deixa de o ser e não há gracejo ou trocadilho que a pare. Parece uma bebida com gás, mas o sentimento é quente. Fervilha. É a impaciência a clamar por acção. Por vezes, mais que impaciência, um clamor pelas devidas justiças.
O sistema feudal insiste em manter-se de pé na República do favorzinho. A verdade é simples: os motoristas apenas pedem que o real valor que recebem de salário apareça no recibo. Querem fazer descontos, como eu e tu. Se estão a ser pagos por baixo da mesa, sim é crime. E sim, têm esse direito.
Sim, podemos ficar sem uma carrada de coisas que o trabalho diário deles proporciona, mas a realidade é esta. Não me parece que o pedido seja de aumento salarial. Parece-me apenas que querem estar protegidos quando as vicissitudes da vida acontecem, protecção pelo mesmo Estado que supostamente me protege a mim e a ti. Justiça, afinal. A verdade no recibo e os descontos por aquilo que ganham. O pior é que quando param, Portugal fica louco. Então, tratem bem essa malta!
Tem repercussões como qualquer outra revolta. E no fundo, acho que acabam por estar a obrigar os agentes activos e reguladores a parar de fazer “vista grossa”, pois a ser verdade o que dizem, estão a fugir milhares de euros por ano dos cofres públicos.
Era só isto. Ah, e sim, voltei às crónicas. Resto de boa semana e espero que se tenham prevenido antes da confusão, pois as estações de serviço parecem um cenário pré-apocalíptico à Mad Max.
Selma Nunes