No outro dia dei comigo a pensar na quantidade de neurónios que falecem enquanto acompanhamos a actualidade através de notícias televisivas. De tédio. Parecem uma novela, daquelas muito chatas e repetitivas.
Para uma novela precisamos para aí de três ou quatro famílias e um segredo: uma família rica, uma família com um estabelecimento comercial onde passam as pessoas que dizem coisas giras e uma família pobre com um segredo. O segredo só se pode saber no fim, e alguém engravida.
Não sei quem alinha os noticiários televisivos, mas é parecido. Há uma família que controla o orçamento das outras famílias todas, encabeçada por um Ministro muito forte. Como o dinheiro sai a conta gotas, todos os ministérios sofrem a pressão das manifestações em escolas, esquadras e hospitais.
O senhor do estabelecimento comercial compadece-se de toda a gente e lá vai oferecendo a bica a quem passa, conversando muito com todos. Em outro separador, há várias personagens que ou estão a ser julgadas por não se saber o que fizeram ao dinheiro, ou como o arranjaram… e essas personagens geralmente não se lembram também.
Como não há cá grandes segredos (nem de justiça) e ninguém engravida nesse suplemento, apimenta-se a coisa com quinze minutos de alterações climáticas seguidas de uma hora de desporto e mais cinco horas de pessoas com opiniões sobre desporto.
Depois, acha-se sinistro que apareçam votos desinformados em urna, acicatados por falsas notícias bem mais concisas e sem tendências para novela.
Selma Nunes