Loulé, Silves e Albufeira juntaram esforços e, ao longo do último ano, têm vindo a trabalhar num dossiê para uma candidatura com vista a receber da parte da UNESCO a classificação de Geoparque Mundial. O achado paleontológico Metoposaurus algarvensis inspirou este projeto intermunicipal que tem ainda um longo caminho a percorrer – até porque neste momento é “aspirante” – integrando como um dos seus principais objetivos a dinamização deste território para contrariar a desertificação do interior da região.
Na passada segunda-feira, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Loulé, foi dado mais um passo importante, com a celebração do protocolo entre as três autarquias e a Universidade do Algarve / Centro de Investigação Marinha e Ambiental, naquele que foi o primeiro ato público de apresentação do projeto.
Com um património geológico de referência mundial, com destaque para a Jazida da Penina, local onde foi descoberto o Metoposaurusalgarvensis, um anfíbio extinto semelhante a uma salamandra gigante que viveu há 227 milhões de anos e que constitui um achado de grande importância para a paleontologia, este aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO conta com um território bem definido: “Estamos a seguir os limites do Jurássico, em que a Norte, Leste e Oeste é o limite dos próprios concelhos, e a Sul pode seguir a Auto-Estrada e a EN125”, referiu a diretora científica, Cristina Veiga-Pires.
Do Barrocal à Serra algarvia, a Mina de Sal-gema em Loulé, os Calcários do Escarpão em Albufeira ou o Grés de Silves fazem parte de uma lista que conta, até ao momento, com mais de 25 geossítios a serem documentados. Como considerou a responsável científica, é necessário ir aos locais, verificar a acessibilidade, o estado em que se encontram para poder haver musealização. “Temos que fazer esta listagem e homogeneizar a informação. Os três municípios já têm muita coisa feita em termos de património, de cultura, de percursos pedestres que têm uma geologia por detrás. É isso tudo que temos de documentar mas temos também de descobrir novos geossítios, é ainda necessário fazer muita investigação”, sublinhou Cristina Veiga-Pires.
Este projeto pretende promover o conhecimento do território, nas suas diversas vertentes, utilizando de modo sustentável o património natural e cultural no presente e para as gerações futuras, criando sinergias relacionadas com atividades científicas, culturais, ambientais, educacionais, sociais e turísticas, mas também com uma clara preocupação com as alterações climáticas. No entanto, o ponto fulcral será o envolvimento das comunidades locais até porque as pessoas estão no centro do projeto. Os três autarcas frisaram a importância dos habitantes destes três concelhos que serão determinantes para que o projeto seja bem-sucedido, pelo que a envolvência das pessoas é essencial, porque é um projeto que tem que ter uma componente de baixo para cima.
Para chegar a estas pessoas, Vítor Aleixo acredita que os presidentes das juntas de freguesia serão “atores fundamentais” dada a proximidade aos habitantes. “É um projeto que tem uma forte matriz identitária e é preciso que as pessoas incorporem nelas uma ideia nova: é que o seu território tem esta riqueza geológica mas que, associada aos acontecimentos de importância geológica nacional e mundial, tem toda a sua cultura, ambiência, o modo como se relacionam entre eles, como se relacionam com a natureza. Portanto os presidentes de junta são essenciais para levar o projeto às pessoas”, referiu.
É, pois, uma candidatura que trabalha no território e aposta no desenvolvimento do interior, com o objetivo de “contrariar o clima de declínio demográfico, económico e até natural” que se vive nestas áreas deprimidas dos três concelhos.
Da mesma opinião é o autarca de Albufeira, José Carlos Rolo, que acredita que este perímetro “poderá contribuir para potenciar o interior pela via económica, social e demográfica”, constituindo igualmente “um incentivo para que se dilua a sazonalidade”.
A responsável da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, referiu que, independentemente das diferenças entre os três municípios, nomeadamente em termos políticos, “geologicamente este território fala a uma só voz”, salientando ainda o envolvimento das pessoas para que haja “uma linguagem comum”.
Da Universidade, parceiro fundamental em termos científicos para levar por diante este projeto, Maria João Bebiano referiu a importante dinâmica do Centro de Investigação que conta atualmente com 100 elementos, um deles com ligações à UNESCO, e alguma experiência no âmbito das Nações Unidas.
Já o reitor, Paulo Águas foi perentório ao referir que o que se pretende não é criar geoparques como campos de golfe ou marinas. Este território “foi criado há muitos milhões de anos e, nessa medida, o que vamos fazer é utilizar o território e preservá-lo numa ótica de sustentabilidade ambiental e por arrastamento também turístico e económico, e não construir os recursos”, disse.
Neste momento, trabalha neste dossiê uma equipa técnica multidisciplinar, com elementos das quatro entidades envolvidas. Apesar do prazo de submissão da candidatura ainda não ser certo – 2021/22 – já no próximo ano está prevista a criação de uma Associação que ficará responsável pela gestão do projeto do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira.
Refira-se que já no próximo sábado, 7 de dezembro, a Escola Secundária de Loulé irá receber a Conferência “Geoparque Algarvensis: Desafios e oportunidades”, bem como a inauguração de uma exposição itinerante. Um dos oradores será Octávio Mateus, um dos investigadores envolvidos na descoberta do Metoposaurus algarvensis que lançou o desafio à Autarquia de Loulé para, a partir deste achado de importância mundial, “partir para uma narrativa coerente, holística sobre esse território”.
Fonte: GAP da CM Loulé