Colégio Internacional de Vilamoura | Aulas em período de Covid-19

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“Cuida-te professora, não saias de casa…” Retrato do dia-a-dia escolar do Colégio Internacional de Vilamoura em tempos de Covid-19.

São 09h30. Frente ao seu computador, Ema Costa, estudante da Junior Primary School, inicia uma aula virtual. O Google ClassRoom notificou-a dos trabalhos e respetiva data de entrega e agora, com o trabalho entregue na plataforma, esta tem oportunidade de colocar as suas dúvidas e rever os seus colegas, através de uma curta aula com o Zoom.

Esta é, desde o dia 13 de março, a realidade dos alunos do Colégio Internacional de Vilamoura (CIV) durante o período de isolamento social provocado pelo coronavírus Covid 19. “É um inimigo invisível que colocou os países em estado de alerta, alterando profundamente os percursos que conhecíamos e a que estávamos habituados”, refere Cidália Ferreira Bicho, Diretora Pedagógica do Colégio Internacional de Vilamoura (CIV). “Neste contexto ainda tão pouco definido”, acrescenta, “somos todos convidados, enquanto profissionais de educação, a reinventar-nos! E assim, sem aviso prévio, vemos as nossas casas a transformarem-se em sala de aula!”

Entre todos, as exigências multiplicam-se. Aos trabalhos de casa juntam-se agora as aulas virtuais por videoconferência, os chats, a partilha de aulas gravadas por vídeo e as conversas nos grupos de WhatsApp, para esclarecer, informar, recordar, ou simplesmente, para desabafar. Pais/tutores, professores e alunos esforçam-se por manter a normalidade numa altura em que todos se tentam ajustar a uma nova realidade.

“A gestão do tempo foi difícil, mas a flexibilidade e perseverança permitiu-nos fazer reuniões entre docentes, preparar aulas, orientar alunos, dialogar com pais e conciliar tudo isto com as (infindáveis) lides domésticas e a gestão familiar”, explica Cidália Ferreira Bicho.

E é assim semanalmente. Recorrendo às ferramentas tecnológicas e adotando métodos ajustados aos vários níveis de ensino, os professores tentam estreitar laços e estabelecer novas pontes. Se todos apontam como aspetos menos positivos a inexistência de um contacto mais humano, realçam que “esta é uma oportunidade para criar”. No meio de muito cansaço, “ganham-se grandes ferramentas que seriam menos exploradas no dia-a-dia”, refere Anabela Chaves, docente de Português de 5.º, 6.º e 7.º anos. A professora refere que já introduziu novos conteúdos gramaticais e que os alunos têm conseguido surpreendê-la. “Quinze dias passaram, e foi tanto. Os alunos continuam a querer contar as suas experiências, a partilhar o passo a passo dos seus trabalhos… a partilha não se perdeu. E o maior desafio está em arranjar estratégias para que estes se sintam perto, estando longe fisicamente, e continuem a ter vontade de realizar as tarefas propostas”, refere.

A docente acredita mesmo que “o tempo aluno-professor acaba por ir mais além em alguns aspetos, na medida em que o este entra na esfera da vida privada do aluno. Eles querem mostrar-me o seu espaço, os seus trabalhos, o seu cão…”. Este retorno chega muitas vezes aos docentes através dos pais, que se desdobram em mails e filmes através dos quais vão acompanhando o progresso escolar – e porque não dizer, afetivo? – dos seus filhos. A coordenadora do Jardim de Infância e educadora do Grupo dos 5 anos do Pré-Escolar, Luz Gago, elogia o aumento desta proximidade e a partilha destes momentos numa altura em que “os pais estão de parabéns, porque estão a fazer um esforço duplo.”

Também a Coordenadora da escola de 1.º Ciclo (e professora da turma de 3.º ano), Helena Neto, realça o retorno das famílias e como isso pode ser transformador na vida de um docente: “O apoio que temos recebido da parte dos pais tem sido fenomenal”. “E este apoio é fundamental para conseguir chegar aos aluno”, acrescenta ainda a professora da Primary School (Year 2), Michelle Carrapato.

“Ficamos contentes por saber que as crianças têm saudades da escola. Por vezes, nas mensagens que me escrevem, preocupam-se e até têm palavras carinhosas como: ‘cuida-te professora, não saias de casa, protege-te’.”  

Para Cidália Ferreira Bicho, “É difícil de expressar por palavras a corrente de entreajuda que se gerou nestes dias, mas é visível em muitos gestos que espontaneamente surgiram entre nós. Paralelamente, muitos pais agradeceram e elogiaram o trabalho das várias equipas, os alunos enviaram mensagens, manifestando o apreço pelos seus professores, manifestaram saudade da escola, dos amigos e das aulas e até vestiram o uniforme em casa para realizar as tarefas!” 

Mas, como é a dinâmica escolar à distância?

No Jardim de Infância, “à segunda, os professores de várias áreas enviam desafios por email e, à quinta ou sexta-feira recebem o feedback. Com a plataforma Zoom, lançamos um tema e ouvimos as crianças. É uma explosão de alegria verem-se todos, de repente”, explica Luz Gago.

Na Primary School, “os alunos seguem o horário que seria o das aulas presenciais. Os pais recebem, juntamente com o plano do dia, o passo a passo e as correções dos trabalhos. Passaremos a ter videoconferência não uma, mas duas vezes por semana, para potenciar a proximidade entre professor e colegas e atenuar esta separação tão repentina, preencher um certo vazio…”, refere Michelle Carrapato.

“As minhas turmas têm participado de forma ordenada e, nas aulas assistidas, até põem o dedo no ar para falar, como se estivéssemos em sala de aula”, acrescenta a professora Anabela Chaves que, junto ao Plano de Aula, anexa os recursos e as tarefas com prazos de entrega até meio da tarde e correção até ao final do dia escolar.

Já “no Ensino Secundário, optámos por uma metodologia de trabalho que dá ao aluno mais autonomia na gestão do seu tempo e dos momentos de estudo. Os prazos de entrega são desfasados, mas sempre semanais. As dúvidas são colocadas no chat da ClassRoom, mas sobretudo por email. As notificações por telemóvel permitem responder, no imediato, às dúvidas”, refere a professora de Português do Ensino Secundário, Celina Lourenço. O sistema foi absorvido de forma muito orgânica, “porque esta plataforma já era usada em disciplinas como a Matemática e a Economia no Ensino Secundário”, refere a docente.

E os alunos, como estão a adaptar-se?

Se, para alguns, este é um método de trabalho relativamente fácil, para outros, é gerador de desmotivação e isolamento. As saudades da escola – e sobretudo dos amigos – são transversais a todos. “Em casa, podemos interagir com os colegas, mas é estranho, parece que estamos sozinhos, apesar de estarmos juntos”, refere Catarina Cavaco, estudante de 8.º ano. A solidão leva-a, contudo, a descobrir que “há mais interajuda para fazer os trabalhos, parece que se cria uma rede.” E, sim, “apesar da distância, falamos muito. Sentimos saudades, mas temos conseguido manter os contactos”, acrescenta Teresa Ferré, aluna do 6.º ano.

A estudante esforça-se por ver as coisas pelo lado positivo: “Tenho saudades da família, dos amigos, mas passo mais tempo no jardim, com as minhas duas cadelas e os meus quatro gatos. Apesar da falta de liberdade – sentimo-nos presos em casa -, sei que tenho muita sorte, pois vivo no campo.”

“No início, foi difícil”, confessa Laura Lopes, estudante de Year 10, “mas agora já me consigo organizar melhor entre as videochamadas e os trabalhos. O facto de não termos um tutor leva a um maior grau de distração, mas acredito que este período nos vai permitir aprender a organizar melhor o nosso tempo”, refere a aluna.

Se há alunos que referem ter conseguido adaptar-se com tranquilidade à nova metodologia de trabalho, outros assumem ainda não ter encontrado o ritmo de estudo certo nesta nova fase de aprendizagem virtual. Para além da dificuldade em assistir à primeira aula do dia, persistem alguns obstáculos em conseguir entregar os trabalhos dentro dos prazos estipulados. Tanto Catarina Cavaco como Laura Lopes (Year 10) preferem as aulas filmadas, como têm adotado os professores de Informática e Matemática da última. Já Maria Papa (finalista de 12.º ano da área de Ciências) encontra mais conforto nos trabalhos, consciente de que as aulas online podem ser boicotadas pelo lento acesso à internet. Catarina também é dessa opinião: “Na escola, quando temos uma dúvida, a resposta é imediata. Em casa, a Internet é intermitente e, por vezes, a resposta à nossa dúvida demora a chegar.” E, depois, adianta Maria, “ao nível dos trabalhos, os PDF’s estão sempre lá para nos apoiar, a esse nível não é possível fazer mais.”

A aluna manifesta-se particularmente apreensiva nesta fase da sua vida escolar, fundamental no acesso à universidade. “Não consigo imaginar esta situação a prolongar-se. Apesar de saber que já consegui criar uma rotina em relação à escola, parece que estou a boiar. Como não sei como vai ser o futuro, não tenho motivação para estudar para os exames.” A mãe, Carla Papa, preocupa-se com esta ansiedade da filha, mas compreende a situação. Celina Lourenço, professora de Português de Maria, refere que “o trabalho de preparação é muito árduo – e isso não pode mudar –, os canais é que são outros!”

Motivação – a palavra de ordem

Motivação é a palavra de ordem para todos: alunos, docentes e pais/tutores. Para os profissionais que conseguiram manter o (tele)trabalho, há uma série de tarefas acrescidas. A flexibilização e a acumulação de papéis, respeitando, sobre o mesmo teto, os horários dos vários elementos que compõem o agregado familiar, constituem um desafio para todos. E tudo é importante: a família e os afetos, as rotinas alimentares e de higiene, o exercício físico, o trabalho e a escola.

E os pais desabafam. Sobretudo para os alunos adolescentes, a propensão para o tempo diante dos ecrãs acentuou-se, levando os pais à questão: ‘devemos limitar o único contacto possível com os seus amigos num período como este?’ “Não é fácil”, diz Paula Gonçalves, com uma filha no 8.º ano. O segredo está no bom senso, mas também na manutenção das rotinas.

“Temos que perceber que o sistema escolar está montado para um contacto presencial e que só isso cria uma sensação de disrupção muito grande. Esse afastamento físico é o que causa maior desgaste emocional em todos nós”, refere Sandra Botto, mãe de uma jovem a estudar no 6.º ano de escolaridade.

É, por isso, fundamental, acompanhar. Susana Beja, com um menino no Pré-Escolar (Grupo 5 Anos) refere que “o Guilherme está atento e mostra-se interessado em fazer os trabalhos, e em ver os trabalhos que os amigos e as mães partilham no grupo.” Num quadro em que “não há pressa e a família pode disfrutar mais do tempo”, apraz-lhe ver “a forte importância afetiva que a escola tem” no seu filho. Cecília Cantore (mãe de um rapaz no Year 2 e de uma menina na Reception Class) admite que “eles estão felizes e a gostar da escola em casa, da presença do pai e da mãe.” “Como adultos, temos uns dias mais cansativos, e outros mais animados”, desabafa. “Obviamente não podemos contar com o apoio do professor, da ama – e ninguém morre por ter de fazer tudo -, mas há que organizar os tempos. E os dias passam a voar, a voar…”, diz, a sorrir.

Os pais munem-se de todos os recursos possíveis, mas quando é necessária ajuda extra, é preciso requerê-la. “Lucas está habituado, quando fala com o papá, a responder em Francês e, quando fala com a mamã, a responder em espanhol. Ser `forçado´ a manter diálogos em inglês para praticar a disciplina tem-se revelado complicado”, refere. “O facto de ser professora ajuda-me bastante a encarar o meu papel neste momento junto dos meus filhos”, diz, “isso não me assustou. E esse papel é necessário, para que não percam o apoio mais presencial, a ligação.” Cecília perspetiva ainda o seu receio: “Alguns pais encontram-se na circunstância de não trabalhar – e poderem dedicar-se mais aos seus filhos – outros não terão a mesma sorte. Temo, por isso, no futuro, o desnível educacional das crianças dentro de uma mesma turma.”

Escola – uma ponte para a aprendizagem e os afetos

E num momento como este, qual o papel pedagógico e social da Escola? As famílias reiteram a mesma opinião. “O papel interventivo do CIV, tentando manter os alunos a trabalhar, apresentando soluções alternativas, foi muito positivo”, refere Carla Papa. Ana Abreu, mãe de uma rapariga e de um rapaz, a estudar no Year 10 e no Year 8, respetivamente, realçou a pertinência da “criação de uma plataforma de trabalho por parte da escola para continuar a acompanhar o aluno.” “Foi muito importante o rápido acompanhamento dos docentes, e a sua ajuda na manutenção da rotina e no contacto com as crianças. Sem esse apoio, nem quero imaginar como seria”, refere Carla Pereira, cuja filha estuda no 3.º ano do ensino básico. Como profissional, a contabilista e assessora fiscal viu-se obrigada a reduzir o volume de teletrabalho, porque “a partir do momento em que a Maria acabava os trabalhos, desmotivava, desorientava-se.” Também Ana Abreu sentiu necessidade de reforçar o apoio ao filho mais novo, sobretudo ao nível da gestão da informação que ia sendo recebida pela plataforma.

“Apesar de tudo, há dias muito agradáveis”, diz Carla Pereira, “sobretudo quando fazemos juntas os exercícios dos vídeos do professor de Educação Física…”. Este aspeto é também realçado por Cecília Cantore. “Poder fazer atividades com vídeos, como ouvir as histórias da Biblioteca Escolar, é tão bom. As crianças não têm que perder a importância que a escola e os professores têm na sua vida”, diz. “Isto poderá levar os pais a pensar o que é dar uma aula, acompanhar 24 crianças. É muito! Talvez ajude a melhorar a consciência do que é de facto educar. Não estamos com 24 crianças, estamos com os nossos filhos. Penso que o trabalho dos professores e da escola sairá valorizado neste processo.”

“É um período de ajustamento que não substitui, de todo, as aulas presenciais”, adverte o professor de Physical Education (PE), Albano Ribau. “Por mais recursos tecnológicos que eu possa usar, preciso de ver os alunos transpirar, preciso de corrigir posturas…”. Contudo, “por ora, é importante que, ao nível das bases, o aluno não perca o ritmo”, acrescenta.

Neste processo, Celina Lourenço introduz uma preocupação: a eventual infoexclusão da comunidade a nível nacional, advertindo para as possíveis desigualdades que o acesso ao apoio escolar e às novas tecnologias possam vir a criar no panorama dos exames nacionais. “Os alunos estão todos ‘no mesmo barco’, só que uns estarão num cruzeiro de alto luxo e outros numa traineira, o que poderá colocá-los numa situação de extrema desigualdade”, refere.

Ver o lado positivo

Cientes das consequências que o isolamento terá a longo prazo nos seus filhos, os pais dizem que “é preciso tranquilidade” e “olhar para as coisas boas”. “A avaliação agora não é um fator prioritário, e sim o respeito pelo trabalho dos outros”, refere Sandra Botto. “E temos vivido assim aqui em casa. Não saímos, não vemos a família, todos nos ressentimos – mas cozinhamos, vemos filmes, lemos novos livros. Tentamos colmatar esse desgaste emocional”, desabafa. “Não romantizo”, acrescenta, “porque é avassalador, mas somos obrigados a ser mais tolerantes uns com os outros. Conviver em casa como nunca convivemos pode ser uma oportunidade para nos conhecermos melhor e desenvolver sentimentos como tolerância e espaço.”

“Estamos perante um contexto desconhecido para todos nós, para o qual não há guião, mas haverá seguramente caminhos e respostas para as tantas questões que surgem. E as respostas estão em nós!”, refere Cidália Ferreira Bicho.

“Sem dúvida sairemos disto muito mais humanos, reforçados”, crê a professora Anabela Chaves.

CIV

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