Num ano peculiar como o que estamos a atravessar com a pandemia da COVID-19, torna-se essencial abordar temas como a importância da vacinação na prevenção. Destacamos o papel da vacinação enquanto escudo na proteção individual e coletiva para tentar analisar de que forma a vacinação antigripal pode contribuir para o alívio da sobrecarga dos sistemas de saúde. A Sanofi Pasteur juntou-se à Sociedade Portuguesa de Pneumologia, para abordar estas questões e apresentar as diferenças e semelhanças entre o vírus influenza e o coronavírus, num webinar designado por “Gripe e COVID-19 – Adultos e Crianças”.
Filipe Froes, Pneumologista e Coordenador da Comissão de Trabalho de Infeciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, destaca algumas diferenças entre os dois vírus. “Desde 1900 houve quatro pandemias de gripe enquanto esta é a primeira pandemia a Covid-19”, acrescentando que “a taxa de letalidade é superior à da gripe espanhola apenas com 100 anos de avanço tecnológico, o que significa uma organização hospitalar e unidades de cuidados intensivos que não existiam anteriormente”. O pneumologista identificou ainda a sobreposição dos fatores de risco como uma semelhança entre ambas.
Na época de 2019/2020 verificou-se uma coincidência extremamente oportuna. Pela primeira vez em Portugal a taxa de cobertura vacinal contra a gripe na população com mais de 65 anos foi superior a 75%. “Embora a vacina contra a gripe não confira proteção contra a infeção COVID-19, o quadro clínico é bastante semelhante e é mais um fator que pode facilitar o diagnóstico diferencial e contribuir para que as populações alvo da doença estejam protegidas”, relembrou Filipe Froes referindo-se aos dados do Vacinómetro divulgados no último mês de março. O especialista, sublinha ainda que “estes valores só foram possíveis de atingir porque Portugal teve a capacidade de adquirir o número de vacinas que fundamentou esta taxa de cobertura vacinal. No ano passado tivemos disponível quer no Serviço Nacional de Saúde quer no mercado da comunidade um pouco mais de 2 milhões de vacinas, cerca de 2.053.000 vacinas, mais de 100.000 vacinas do que na época anterior (2018-19)”.
Filipe Froes adverte também que é fundamental prepararmo-nos para a próxima época gripal para que existam vacinas disponíveis e estes valores de taxa de cobertura vacinal se mantenham. A sobreposição entre as populações de risco e o facto das pessoas estarem vacinadas é um fator decisivo para ajudar no diagnóstico diferencial e diminuir provavelmente a carga de doença em grupos populacionais que podem ser afetados pelos dois micro organismos virais.
Em relação à importância da vacinação, o médico pneumologista afirma que “muitas vezes põe-se em causa a vacinação sendo esta a medida mais importante na prevenção. O que estamos a viver hoje com a COVID-19 é a amostra de como seria o mundo sem todas as outras vacinas. Se estamos neste pandemónio sem uma vacina como seria sem as outras vacinas?”.
António Diniz, Pneumologista do Hospital Pulido Valente e Membro do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos apresentou as diferenças entre as doenças infeciosas por Influenza e Coronavírus. “Na Influenza, crianças, grávidas, idosos e portadores de doenças crónicas ou imunodeprimidos são as pessoas mais afetadas, o período de incubação é menor (três dias) e existem fármacos aprovados para tratamento específico e vacinas disponíveis. No coronavírus, a população está totalmente suscetível, os idosos e portadores de doenças crónicas ou imunodeprimidos têm maior propagação de formas graves e o período de incubação situa-se entre os cinco e seis dias, além de ainda não existirem fármacos aprovados para o tratamento e uma vacina disponível”, apresentou o médico.
Dr.ª Maria João Brito, Pediatra e Coordenadora da Unidade de Infeciologia Pediátrica, Hospital D. Estefânia de Lisboa realça que “na COVID-19, a taxa de contaminação infantil é muito menor do que acontece na gripe. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a percentagem é 0,9-2%. Até dia 27 de abril de 2020, houve 74 casos de COVID-19 no Hospital Dona Estefânia, mas apenas 28 crianças ficaram internadas por motivo de gravidade. A idade média de internamento por gripe é de 2 anos e com COVID-19 é cerca de 9 anos, sendo que a criança mais pequena que ficou hospitalizada tinha 13 dias de vida” explica a pediatra.
Comparando as duas doenças, um dado interessante é que na gripe são as crianças que infetam os adultos, ao contrário do coronavírus em que existe naturalmente um adulto em casa, e é este que infeta a criança. No Hospital Dona Estefânia os dados revelam que em 54% dos casos a doença foi transmitida por um adulto, mas houve uma percentagem significativa de casos em que a criança foi o primeiro membro da família a ser infetado (46%).
As crianças estão fora do grupo de risco para a COVID-19 porque de acordo com a comunidade científica, têm menos recetores a este vírus, estes recetores aumentam à medida que os anos passam. A população pediátrica tem um sistema imunitário muito forte assim como um um sistema de defesas reforçado, a que chamamos imunidade inata que vai diminuindo ao longo da vida.
Da perspetiva dos Cuidados Primários de Saúde, Rui Nogueira, Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, demonstrou uma enorme preocupação pela inexistência de um conhecimento razoável sobre a COVID-19, o que conduz a uma desorientação perante muitos aspetos de prática clínica e de evolução distintos e sem um tratamento efetivo.
RN BEE