O grupo de folclore mais antigo do Algarve completa o seu 90º aniversário, no dia 10 de junho. Este seria o momento em que as muitas dezenas de componentes, das quatro secções do grupo, subiriam ao palco, mostrando com orgulho a sua arte e tradição, não fosse a pandemia a atrapalhar os planos e impedir os festejos…
Para este ano especial, o Grupo Folclórico de Faro iria apresentar um Espetáculo Comemorativo com as quatro secções: Escola de Acordeão, Cancioneiro, Grupo Infantil e Grupo Adulto. Contaria também com mais dois grupos convidados, de outras regiões do país, mas a sua vinda teve, igualmente, que ser adiada para o próximo ano. Este ano, o aniversário será assinalado apenas através das redes sociais.
Na mensagem de aniversário enviada ao Grupo, o Presidente da Câmara Municipal de Faro, Dr. Rogério Bacalhau refere: “Olhar para a história do Grupo Folclórico de Faro é contemplar, também, a história recente da cultura tradicional algarvia. É uma história de crescimento e de afirmação, até internacional, do nosso folclore, das suas raízes etnográficas e da sua alma mais autêntica.”
UMA HISTÓRIA DE 90 ANOS
O mais antigo dos grupos de folclore da região algarvia foi formado em Faro por Serafim Carmona, no início dos anos 30. Teve como principal impulsionador Henrique Bernardo Ramos – grande figura do folclore algarvio que liderou o Grupo durante quase 40 anos.
Começou por se chamar Rancho Regional Algarvio ou, simplesmente, Rancho do Algarve. Na sua génese estiveram muitos dos grandes acordeonistas que marcaram uma época: José Ferreiro Pai, António Madeirinha, José Massena Fialho (o “Céguinho da Luz”), José Padeiro, Armindo Barbosa, irmãos Marum, entre muitos outros. As habilidades dos bailadores nas “escovinhas” e “sapateados” fizeram escola em todo o Algarve – “Pechalhá”, “Rabinete”, Miguel dos Santos, Leal, “Galinho”, Carminho e irmãos Fantasia marcaram uma época na arte de dançar o corridinho.
Foram muitos os êxitos, como as “Noites Algarvias” que lotaram o Coliseu dos Recreios em Lisboa nos anos 40 e 50, mas também não faltaram revezes e até paragens, devido aos anos mais duros da emigração que levaram muitos dos elementos do Grupo para fora do país.
Nos anos 60, o Grupo volta a brilhar ao lado da saudosa Orquestra Típica de Faro, e inicia uma ativa participação na animação turística do Algarve.
Nos anos 80 e 90, sob a direção de Fernando Fantasia, conhece os palcos de muitos dos mais importantes festivais de folclore, um pouco por todo o mundo. A partir de então não mais parou de representar o país nos quatro cantos do mundo!
UM GRUPO DE REFERÊNCIA
O Grupo Folclórico de Faro é uma referência obrigatória no panorama do folclore algarvio. É membro da Federação do Folclore Português, filiado no Inatel e foi um dos fundadores da Associação de Folclore e Etnografia do Algarve. Enquanto organizador do FolkFaro, é também membro do CIOFF Portugal (Conselho Internacional dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais).
O Grupo tem quatro secções em funcionamento, abrangendo cerca de 100 elementos. O grupo de dança adulto que interpreta, desde 1930, os característicos corridinhos, bailes de roda e baile mandado, numa tradição que se transmite de geração em geração. O grupo infantil permite aos mais pequenos recriar em palco as brincadeiras, as cantigas e as danças dos tempos dos seus avós, garantindo a continuidade do grupo, com a formação de novos bailadores. O Cancioneiro, grupo de cantares populares e tradicionais, procura mostrar um pouco da diversidade das raízes musicais do Algarve. Finalmente, a escola de acordeão, sob a orientação do Professor Hermenegildo Guerreiro, é um contributo para a formação de novos tocadores do instrumento-rei do Algarve.
Para além de apresentações por todo o país, o Grupo tem vindo a participar em inúmeros festivais internacionais de folclore, tendo já efetuado deslocações a Espanha, França, Marrocos, Canadá, EUA, Itália, Brasil, Turquia, Suíça, México, Hungria, República Checa, Chipre, Grécia, Rússia, Eslovénia, Bélgica e Polónia. Participou em diversos trabalhos e publicações de carácter etnográfico, em desfiles e exposições de trajes, e várias edições discográficas.
Considerado como uma verdadeira instituição da capital algarvia, o Grupo Folclórico de Faro foi distinguido pela Câmara Municipal, no ano de 2002, com a Medalha de Ouro da Cidade. Em 2014, recebeu a Medalha e o Diploma de Mérito atribuídos pela União das Freguesias de Faro. Já em 2015, recebeu o Prémio Figuras, atribuído pelo Teatro Municipal de Faro, pela realização do FolkFaro – Folclore Internacional Cidade de Faro.
Em 2017, com a atribuição ao Grupo, pelo Município de Faro, do piso superior do edifício histórico do Solar do Capitão, concretizou-se uma aspiração antiga do Grupo: a inauguração de uma Sede Social condigna que lhe permite desenvolver as suas atividades em melhores condições.
UM GRUPO COM PROJETOS DE FUTURO
O Grupo Folclórico de Faro, orgulhoso do seu passado, continua com projetos de futuro, entre os quais se perfilam uma deslocação à Argentina, que deveria realizar-se em setembro deste ano, mas que, por força das atuais circunstâncias, foi adiada para setembro de 2021.
Está em preparação, entretanto, a publicação de um livro sobre a história do Grupo Folclórico de Faro que para além da narrativa, ilustrações e fotos, contará também com os testemunhos e depoimentos de atuais e antigos componentes do grupo, e ainda de diversas personalidades ligadas ao Grupo.
O FolkFaro é o maior festival internacional de folclore do sul de Portugal, trazendo todos os anos até ao Algarve grupos de folclore de vários pontos do mundo, durante nove dias. Aquela que é a maior realização anual do grupo teve também a sua edição de 2020 cancelada, prometendo-se um regresso em força em 2021!
GFF