As pessoas foram retiradas do dia a dia e ficaram fechadas em suas casas, sem contacto com o que conheciam como normal, vendo este mundo globalizado através dos mais variados ecrãs. Sem muitas provas em contrário, informaram-se por todos os meios que estiveram ao seu alcance, falsos, verdadeiros e assim-assim.
Campanhas de propaganda por facções diversas, com um sem número de interesses tomaram o lugar das instituições respeitadas. Foram retiradas pedras base dessas instituições que começaram a cair no descrédito, a lançar a dúvida. A onda de indignação e desconfiança aparece por todo o lado, tal e qual o próprio vírus que nos encarcerou. As ideologias de extremos cimentaram-se.
Dizem que travamos lutas sociais pois os poderes instalados poderão mudar. Que há várias conspirações de grupos de interesse no meio de cada notícia. A era da informação está a autodestruir-se, dizem, para dar lugar a uma nova, boa ou má.
Manifestos globais violentos partem estátuas para apagar um passado que não vai desacontecer, ou reverter. É um simbólico acto de ira e de julgamento a posteriori. Isto já é maior que um polícia e a sua brutalidade violenta e condenável, num mundo desigual que vitimiza em larga escala uma parte da sua população. E sim, tem de mudar.
Contudo, já passou muito além disso, tal e qual a morte do arquiduque que despoletou uma guerra mundial. As instituições, se caiem em descrédito podem dar abrigo a ideologias diferentes. Preparam-se novas potências e novas ideias numa sociedade globalizada e em turbilhão.
Não é apagar a História, a Cultura e o raio que se escreve um futuro melhor e diferente, mais justo. Não se pode esperar que as mentalidades de personalidades do passado estejam de acordo com os padrões do século XXI, porque isso é impossível. Há que acreditar na aprendizagem e na evolução e na capacidade humana, sem esquecer erros do passado, ou então lá iremos nós outra vez na espiral da loucura, investindo em poderes que se querem instalar às custas da tal ingenuidade ideológica.
Selma Nunes
