Solta-mente | 2020: Um tempo sem Panaceias

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Já pensaste que se este fosse um ano normal, por esta altura, qualquer de nós já teria calcorreado, pelo menos, dois festivais, três feiras, uns cinco ou seis aniversários, uma vintena de reuniões entre amigos, umas dezenas de dias de praia e até quatro ou cinco cenários de música ao vivo, sem pensar muito e sem atribuir grande valor?

Parece que faz parte do “antes”: sair de casa em busca de uns momentos felizes e de entretenimento sem pensar duas vezes, para escapar às coisas que levamos muito a sério. Ensinaram-nos que o futuro é importante, mas também que a vida é curta e que cada gota do presente, cada oportunidade, tem de ser aproveitada e consumida. Agora, está tudo do avesso. As coisas que tiravam o peso da velocidade da vida que estávamos a viver, são as que nos podem colocar em risco e acabam muitas vezes evitadas, controladas ou adiadas. 

Festejámos a entrada deste ano inocentemente, sem sabermos que brevemente seria colocada à prova a nossa resiliência e a capacidade de adaptação a uma realidade completamente nova. Agora não só nos preocupamos com o futuro profissional e doméstico, como também pesamos as consequências dos momentos de despreocupação e esses são, para as pessoas com algum sentido de responsabilidade e bom senso, controlados. 

A nova realidade traz consigo tantas coisas que nos preocupam e que nos tornam auto vigilantes, auto conscientes, até pelo facto de ir espairecer, de máscara no rosto, pé ante pé… que não sei até que ponto não ficaremos (ou estaremos) em ponto caramelo. Alguns de nós certamente já pareceremos andar a raiar a loucura, em busca de um alívio qualquer disto, sem haver. E notamos que quando temos um relance, um eco de descontracção responsável, sabe a quilos a menos, a uma panaceia do tempo presente.

Isto será provavelmente estudado depois, por quem o saiba. Nunca o lazer, a arte e o entretenimento foram tão importantes para a sanidade mental como agora. Nunca soube tão bem tão pouco. E os nossos promotores, artistas e trabalhadores do lazer, nunca se viram tão aflitos, embora sejam tão importantes para a nossa sanidade mental. Penso neles e saio de casa, máscara em riste, sonhando com um tempo em que poderemos voltar a viver, em vez de existir em modo vigilante, autocontrolo no nível máximo. Como tudo, quem não for maleável à realidade, parte-se. Isto está a testar não a nossa inteligência, mas a nossa maleabilidade. 

Selma NunesTempoPanaceiras

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