Até parece que voltámos à anormalidade normal, depois de encafuados em casa por aproximadamente três meses. As notícias mais comentadas são sobre coisas que nos importam fidedignamente e sobre as quais toda a gente tem opinião: entretenimento. Principalmente daquele entretenimento que movimenta tantos dinheiros que são uma miragem para o português comum e uma indústria dentro da indústria.
Enquanto o regresso de Jesus e a saída de Cristina choca quem tem de chocar e mais além, o nosso Governo vai activar uma espécie de “Big Brother” na net, por causa dos discursos de ódio, “cyberbullying” e outros crimes de incitação à violência (que não o são menos ilegais por serem perpetrados por trás de um ecrã).
Numa mão, a minha eterna preocupação com o extremismo fabricado para gerar antagonismos fracturantes, sem lugar para o bom senso ou meio termo, o colocar de pimenta sobre feridas através de perfis falsos, notícias falsas, comentadores facciosos pagos para fazer determinadas campanhas, jogos de interesses, jogos políticos e ideológicos, autênticas esparrelas para quem só lá vai colocar ou ver a foto do gatinho, ou do almoço da cunhada do primo, que foi de fim de semana com a tia-avó e perdeu a aliança no relvado do jardim enquanto alimentava os patos, ou seja, inocentemente e que é baleado ou baleada pela violência do contraste e pela brutalidade do julgamento público.
Na outra mão, temos o nosso Governo, eleito democraticamente e bem, a dizer-nos que vão implementar medidas para nos vigiar e identificar na internet, para controlar as notícias, a saída de informação, a maneira como é vista e comentada e isso é igualmente preocupante, pois esse poder/controlo traz enormes consequências e permissões que, nas mãos erradas, são igualmente armas de propaganda e controlo.
Como só tenho duas mãos, e nenhuma delas roça os contractos de milhões feitos quer por Jesus, quer por Cristina, vou banhar-me na praia a pensar nessa história de vigilância de cidadãos pela net para combater o que quer que seja considerado o mal por quem vigia e no poder que isso canaliza.
Selma Nunes