Para evitar lavagens de dinheiro, as empresas têm contas bancárias e pagam preferencialmente através dos bancos, para deixar rasto. Mesmo assim, o rasto é encontrado através das facturas apresentadas. Tem sido assim. Com rasto. Normal. No mundo Covid, foi-nos dito que evitássemos, nós, pessoas, o pagamento em numerário. Que usássemos o plástico.
Não nego o jeito que dá, nem o contexto pandémico, no qual é mais seguro o menor manuseamento de dinheiro e trocos possível, por o mesmo ser uma superfície de toque que passa por muitas mãos e higiénico, não será, decerto. Ainda assim, o uso do plástico localiza-nos, mostra os nossos hábitos, mesmo quando somos “cliente final” e não pedimos factura. Mostra para onde nos deslocamos, a que horas e onde bebemos o nosso café, se lanchamos fora, onde e quando fazemos as nossas compras diárias, em que lojas somos clientes, pois passa tudo pelo terminal de ATM quando passamos o nosso rectângulo de plástico. Informação útil para quem também já controla os anúncios que vemos nas redes sociais.
Nos policiais que passo a vida a ler a primeira coisa que se faz quando alguém desaparece é tentar ver onde fez pagamentos com cartão. Porque deixa rasto. O mundo em contexto pandémico pediu-nos que deixássemos um rasto ainda maior. Que evitássemos pagar em dinheiro. Há uns tempos li um artigo que perguntava onde andava o nosso dinheiro enquanto nós pagávamos com cartões. Sim, porque se estamos a usar cada vez mais dinheiro que não vemos, sabemos que está lá na conta, mas se não o levantamos e se pagamos virtualmente, onde fica o dinheiro e o que é feito com ele?
Não sendo adepta de teorias da conspiração, será o princípio do fim do numerário e o princípio do começo de outra coisa qualquer? Com que consequências para as nossas vidas futuras e que polvo é que se está a desenvolver, enquanto andamos mascarados por todo o lado? O que é feito ao rasto informativo e valioso que estamos a deixar por todo o lado?
Selma Nunes