A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) apresenta o site “Crises na Economia Portuguesa” https://www.ffms.pt/crises-na-economia-portuguesa, um projecto inédito em Portugal sobre a datação dos ciclos económicos, que pretende definir, e analisar, os períodos em que a economia nacional esteve em recessão nas últimas décadas. A obra é apresentada numa altura em que Portugal enfrenta uma nova recessão, devido à pandemia de COVID-19.
Entre 1980 e 2019 foram registadas cinco recessões na economia nacional. Em que momentos exactos começaram e terminaram estas recessões? Como reagiu o mercado de trabalho nestes momentos? Quais as consequências para o consumo das famílias? E para a produção industrial? Recorrendo a um Comité de oito reputados especialistas liderado pelo economista Ricardo Reis (London School of Economics), o projecto da FFMS pretende responder a estas perguntas, replicando para o caso português o trabalho que tem sido desenvolvido noutras economias pelo National Bureau of Economic Research (EUA) e o Centre for Economic and Policy Research (Europa).
“Crises na Economia Portuguesa” é um projecto ongoing, em que o Comité de Datação dos Ciclos Económicos continuará a monitorizar a evolução da economia nacional, com a inclusão de novos dados e pareceres à medida que os ciclos económicos se sucederem. Devido à pandemia de COVID19, a economia portuguesa entrou numa nova recessão sobre a qual o Comité já fez uma primeira avaliação que pode ser descarregada através de https://www.ffms.pt/assets-recessoes/reports/Entao_e_2020.pdf.
Para Gonçalo Saraiva Matias, Diretor de Estudos da Fundação, “apesar de se terem produzido alguns trabalhos relevantes sobre o tema, não existe em Portugal nenhuma entidade responsável por analisar e datar ciclos económicos de forma sistemática. Este é um projecto inédito, uma espécie de observatório dos ciclos da economia portuguesa, que pretende contribuir para a história económica do nosso país”.
Cada recessão identificada na económica nacional é acompanhada por um relatório técnico produzido pelo Comité, com notas explicativas sobre a datação e os seus critérios. Ao consultar o site é possível identificar as seguintes conclusões:
- Recessão 1983-1984: Na década de 80, Portugal esteve em recessão entre o primeiro trimestre de 1983 e o primeiro trimestre de 1984. A recessão teve a duração de 4 trimestres e o PIB real per capita caiu 2,7% entre o princípio e o fim da recessão. Apesar de curta, esta recessão teve um assinalável impacto a nível social, sobretudo devido ao aumento do desemprego e à contracção real dos rendimentos da população, provocada pela queda da moeda;
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Recessão 1992-1993: Na década de 90, Portugal esteve em recessão entre o segundo trimestre de 1992 e o terceiro trimestre de 1993. A recessão teve a duração de 5 trimestres e o PIB real per capita caiu 1,1% entre o princípio e o fim da recessão.
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Recessão 2002-2003: Na década de 2000, Portugal esteve em recessão entre o primeiro trimestre de 2002 e o segundo trimestre de 2003. A recessão teve a duração de 5 trimestres e o PIB real per capita caiu 2,9% entre o princípio e o fim da recessão. Esta recessão marcou uma viragem na economia portuguesa que ganhou contornos estruturais.
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Recessão 2008-2009: Na década de 2000, Portugal esteve também em recessão entre o primeiro trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. A recessão teve a duração de 4 trimestres e o PIB real per capita caiu 4,4% entre o princípio e o fim da recessão. Esta crise provocou uma subida da taxa de desemprego, que em 2008 se encontrava já num patamar relativamente elevado para o histórico da economia portuguesa, acima dos 7%.
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Recessão 2010-2013: Na década de 2010, Portugal esteve em recessão entre o terceiro trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2013. A recessão durou 10 trimestres e o PIB real per capita caiu 6,9% entre o princípio e o fim da recessão. Os efeitos desta recessão foram devastadores em termos económicos e sociais.
MEMBROS DO COMITÉ DE DATAÇÃO DOS CICLOS ECONÓMICOS
Ricardo Reis (presidente)
Isabel Horta Correia (Universidade Católica Portuguesa) José Tavares (Nova SBE)
José Varejão (Universidade do Porto)
Luís Aguiar-Conraria (Universidade do Minho)
Nuno Valério (ISEG-ULisboa)
Pedro Bação (Universidade de Coimbra)
José Alberto Ferreira (LSE)
JLMA