Na semana passada escrevi sobre como o talento para as mirabolantes teorias da conspiração actuais podia ser desviado para incrementar a nossa tão necessitada produção nacional e que essa mesma arte deveria ser “pro bono”. Em nada retiro o que escrevi, pelo contrário, sublinho.
À parte este pequeno à parte, venho em defesa das luzes de Natal. Alegram-me. Este não foi um ano fácil. Obviamente. Apenas um extraterrestre poderá dizer o contrário. Ainda assim, há sempre quem tenha por hábito resmungar de tudo e caia na demagogia de achar que o investimento em luzes de Natal poderia ser aproveitado em ajudar quem foi tocado mais de perto com a crise. Não sei se um e outro investimento são sequer comparáveis e se ia realmente ajudar, ou se a acção não passaria de uma manobra de marketing demagoga para animar as hostes. E isso iria ser mais uma teoria. Pescadinha de rabo na boca, quando a malta quer, a malta arranja sempre maneira de distorcer, não é verdade? O que não faltará nunca: argumentistas pro bono, digo-vos.
O que sei: num ano em que a nossa resiliência está a ser posta à prova, no qual nem a liberdade de ir e vir, abraçar ou reunir está assegurada, gosto de espreitar pela janela e ver alguma normalidade. Alegria, apesar de tudo. Porque é bonito, mesmo quando o futuro é incerto e o cenário, se não negro, cinzento chuvoso. O resto é “whataboutismo” gritado aos sete ventos, por vaidade, por vontade, por feitio, ou por interesses (mais ou menos sombrios). Eu gosto das luzes de Natal. Conforta-me ver alguma normalidade, principalmente em tempos nos quais a dita não tem caminhado entre nós. As luzes de Natal não fazem mal a ninguém. Utilize-se essa energia para algo útil que realmente ajude alguém. “Reclamar faz mal à vesícula.”
Selma Nunes