Nesta primeira crónica do ano não me vou meter em politiquices. Já as há para todos os gostos (e até de muito mau gosto) e estou como muita gente, enregelada pelo frio e pelo susto. E aqui no Algarve até temos tido mais sorte com as temperaturas, dizem. Enfim, o ano 2020 acabou. Finalmente.
Não me dei a festas, apesar do apetite profundo de afugentar o ano velho a pontapé, cotovelo e grito, mais do que nunca. Respeitei tanto os limites de horários como os limites concelhios… que se julgaria até que criei raízes. Para árvore só me faltaram dois pares de asas a fazer-me um ninho na guedelha. E, claro, muitos anos de prática de crescimento e equilíbrio, coisa que nesta idade ainda não sucedeu, para o espanto da minha criança interior.
Não me parece de bom tom começar o ano com os ácidos das refeições do ano anterior. Não obstante, temos as consequências da continuidade, dado que não mudámos para uma realidade alternativa quando caiu a meia noite de 01-01-2021. É importante que não esqueçamos, por mais aborrecido que possa parecer, que o acto de virar o ano não nos retira da realidade pandémica em que acabámos Dezembro, nem consta que o vírus se importe com o calendário.
Ainda assim, o desembrulhar de 365 novos dias é acima de tudo um presente de esperança no futuro. É sempre, mas este ano, faz ainda mais sentido. Para que possamos viver outra vez para fora, em sociedade, como é da nossa natureza, ao contrário desta vida interior e de interior que tem sido regra e restrição. Acima de tudo, viver para tentar cumprir (ou ter a hipótese de incumprir) todas as resoluções de Ano Novo. E que cheguemos lá ao 2022, se não mais crescidos e crescidas, pelo menos, um bocadinho mais experientes. Preferencialmente com saúde e ainda em democracia.
Selma Nunes