O Ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, reconhece a energia eólica como uma peça-chave na estratégia da descarbonização, que prevê o aumento de capacidade instalada desta tecnologia dos atuais 5,5 GW para os 9,3 GW em dez anos.
“Vamos reforçar a capacidade que temos. O que sabemos hoje é que podemos ter potências maiores com menos aerogeradores instalados. Vamos por isso apostar no sobre-equipamento, que é uma via muito racional, e no repowering”, sublinha João Pedro Matos Fernandes.
O cumprimento das metas do Roteiro para Neutralidade Carbónica e do Plano Nacional para a Energia e Clima prevê também o incremento do solar, ao contrário do que acontecerá com a hídrica.
“A energia produzida a partir da água dificilmente tem mais de oito ou dez anos de crescimento em Portugal. A água é de todos os ecossistemas e a escassez vai fazer com que tenha outras utilizações mais prioritárias do que a produção de eletricidade. Podemos produzir eletricidade a partir de outas fontes renováveis, como o sol e vento, mas não podemos regar ou beber com nada que não seja água”, realçou, apontando a Cascata do Tâmega como o último grande investimento hídrico.
João Pedro Matos Fernandes falava no encerramento da conferência “Redesigning wind for the next era”, organizada pela APREN (Associação Portuguesa de Energias Renováveis) e pela WIBIS (Wind Energy and Biodiversity Summit) a 27 e 28 de janeiro de 2021 e que contou com a cooperação técnica do INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial.
BIODIVERSIDADE GANHA TERRENO
Especialistas nacionais e internacionais discutiram neste fórum as práticas mais sustentáveis relacionadas com a energia eólica e a preservação e reforço da biodiversidade, abordando casos específicos de boas práticas relacionadas com as aves, morcegos ou lobo ibérico.
O Ministro do Ambiente está convicto de que o tema mais falado no domínio do ambiente deixará de ser a descarbonização para passar a ser a biodiversidade e o restauro dos ecossistemas. “Isso é muito claro e se isso já vinha a ganhar alguma tração é muito evidente depois da pandemia. Esse vai ser mesmo o tema”, antecipa.
O CEO da APREN, Pedro Amaral Jorge, sublinhou que o setor está consciente da responsabilidade, no que concerne à proteção dos ecossistemas e da preservação da biodiversidade, tema que tem abordado com continuidade em público.
“As boas práticas de preservação da biodiversidade começaram, aliás, com o setor eólico porque foi esse que reuniu massa crítica primeiro”, lembrou.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL TEM DE SER ALTERADO
O licenciamento ambiental esteve em destaque logo na primeira mesa redonda da conferência. A propósito deste tema João Pedro Matos Fernandes sublinhou que é “fundamental alterar as regras” que, tal como estão, constituem um contrassenso. Isto porque o reforço da potência recorrendo às novas técnicas não implica impactos ambientais acrescidos.
A conferência focou ainda a visão da banca, enquanto entidade financiadora, e foram apresentados vários casos de estudo. Em destaque esteve também a cadeia de valor da indústria eólica e a atenção que deve ser dada ao ciclo de vida dos componentes das centrais eólicas, de olhos postos na economia circular.
“Se posso dizer que as renováveis criam emprego, ao invés de destruir, o único exemplo que tenho para dar é este mesmo: o do cluster eólico que se construiu em Portugal”, frisou o ministro.
Em cima da mesa estiveram também os temas do aumento da potência em Portugal – trajetória até 2030, os mercados de eletricidade e as perspetivas para o setor eólico em Portugal, assim como o redesenho do setor eólico para a próxima década.
APREN