Resultados preliminares não confirmam um elevado número de aves que ficaram retidas, mortas ou feridas, nas redes de proteção dos tanques das explorações das aquaculturas.
Ainda, não foi identificada nenhuma ave afetada, com estatuto especial de conservação.
Na sequência da identificação de situações de mortalidade de aves causada pelas redes utilizadas para proteção dos tanques das aquaculturas no Estuário do Rio Mondego, concelho da Figueira da Foz, e tendo em conta que se trata de uma área onde está confirmada a ocorrência de mais de cento e oitenta espécies de aves, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas – Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro (ICNF/DRCNF-C) tem vindo a implementar um programa de monitorização para caraterização e avaliação da afetação de aves, por ferimentos ou morte, causados pelas redes utilizadas para proteção dos tanques das aquaculturas.
Os resultados obtidos durante o decurso do primeiro semestre de implementação do programa de monitorização apontam para um número não elevado de aves que ficaram retidas, mortas ou feridas, nas redes de proteção dos tanques das explorações das aquaculturas.
O programa de monitorização consiste na realização de visitas quinzenais às explorações de aquaculturas para recolha sistemática de informação que permita fazer uma caracterização fiável do problema e conhecer com rigor:
(1) as espécies afetadas pelos dispositivos instalados para proteção dos tanques das aquaculturas e para dissuasão das aves (descritor qualitativo);
(2) avaliar a dimensão do problema (descritor quantitativo);
(3) recolher informação que permita definir as caraterísticas físicas e técnicas (tipo de materiais, dimensões, cores, formas de os colocar, etc.) que devem possuir os dispositivos instalados para evitar a predação das aves nos tanques das pisciculturas e que simultaneamente previnam a mortalidade e/ou ferimentos nas aves.
O programa de monitorização em curso pretende ser inclusivo do maior número de sensibilidades que perspetivam a problemática, envolvendo cidadãos, Organizações Não Governamentais e empesas titulares das explorações dos estabelecimentos de aquaculturas, o que permite diversificar as fontes e densificar os períodos de recolha de informação.
A informação recolhida no âmbito deste trabalho tem tido fontes diversas, designadamente:
- Monitorização ICNF/DRCNF-Centro:
Os trabalhos realizados até à data no programa de monitorização permitiram confirmar a presença de aves mortas e feridas retidas nas redes de proteção dos tanques nas explorações das aquaculturas. Não foi registado nenhum episódio que envolvesse um elevado número de aves, ao contrário das notícias recentemente divulgadas sobre esta matéria, nem foi registada a morte de nenhuma ave pertencente a espécies com estatuto de conservação desfavorável definido no Livro Vermelhos dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., 2005).
Os resultados obtidos ainda durante o decurso do primeiro semestre de implementação do programa de monitorização apontam para um número não elevado de aves que ficaram retidas, mortas ou feridas, nas redes de proteção dos tanques das explorações das aquaculturas. Apesar destes resultados serem ainda preliminares, é sabido que existe uma elevada possibilidade da mortalidade de aves, causada pelos dispositivos utilizados para proteção dos tanques nas explorações de estabelecimentos de aquaculturas.
Este risco está associado ao facto de algumas aves como a andorinha-do-mar-anã (Sternula albifrons) e a andorinha-do-mar (Sterna hirundo) ou as águias, entre elas a águia-pesqueira (Pandion haliaetus), o tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus) e até mesmo a águia-deBonelli (Aquila fasciata), utilizarem os tanques dos estabelecimentos das aquaculturas para procurar alimento.
As aves retiradas mortas das redes são registadas com referência ao local, data, espécie, número de indivíduos, entre outras. As aves retiradas feridas foram recolhidas no local pelas equipas do ICNF e encaminhadas para recuperação.
- Organizações Não-governamentais:
As denúncias feitas por organizações não-governamentais da área do ambiente (ONGA) referem “estimativas” que apontam para centenas de aves afetadas todos os anos, por ferimentos e morte, pelas redes de proteção dos tanques das aquaculturas.
- Explorações de aquaculturas:
As explorações dos estabelecimentos de aquaculturas referem a ocorrências de vários episódios de aves presas nas redes, que na maioria dos casos resultam na morte dos animais, sobretudo de corvos-marinhos e gaivotas. As várias explorações contactadas cifram aqueles valores em menos de uma dezena de aves mortas nas redes da exploração por ano.
De referir, ainda, que durante a realização das visitas periódicas às explorações para recolha da informação prevista no programa de monitorização, as equipas técnicas do ICNF/DRCNF-C desenvolvem ações de sensibilização dos gestores e operadores da exploração para as boas práticas que minimizem a atração das aves aos locais, para redução dos prejuízos causados pela predação das aves e para a minimização da afetação das aves causada pelos dispositivos de proteção instalados nas explorações. Estas ações de sensibilização têm como suporte um documento que resulta de um processo de melhoria contínua e cuja primeira versão refere:
1) Informar o gestor e os operadores da exploração sobre o que fazer se encontrar aves presas nas redes usadas para proteção dos tanques nas explorações das aquaculturas
a. Aves feridas
Contactar os serviços do ICNF em Coimbra, de preferência por telefone 239007260 para permitir atuação em tempo útil (disponibilizar número de telemóvel da equipa de Vigilantes da Natureza para contactos fora do horário de expediente) para que a equipa de trabalho se desloque ao local para retirar a(s) ave(s) da rede, fios, etc.
b. Aves mortas
Fotografar antes de realizar qualquer tarefa, retirar, fotografar pormenores e contatar equipa do ICNF.
2) Práticas culturais
a. Práticas culturais (boas)
– Fitas coloridas a sinalizar as redes;
– Espantalhos;
– Disponibilidade de contentores de resíduos;
– Contentores específicos para depósito de biomassa de espécies exóticas retiradas dos tanques da exploração;
b. Práticas culturais (desadequadas)
– Presença vasilhas nas áreas exteriores da exploração com materiais que possam atrair animais (incluindo aves);
– Presença de cabos, redes velhas, fios, etc., que possam servir de armadilhas para as aves;
– Presença de materiais que possam ser arrastados pelo vento;
– Presença de espécies exóticas invasoras nos taludes dos tanques (chorão-daspraias (Carpobrotus edulis), erva-das-pampas (Cortaderia selloana), outras);
– Presença de espécies exóticas nos tanques (jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), Elodea canadensis, outras);
– Presença de redes partidas ou derrubadas sobre o espelho de água dos tanques.
Está prevista a divulgação dos resultados da implementação do programa de monitorização, durante o próximo mês de maio.
ICNF