Solta-Mente: O Algarve, tal como a vida, não é todo plano

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MonchiqueAlgarve

Apesar de não sentir ansiedade ao sentar-me num avião, pois até encaro a viagem com muita naturalidade, perco-me com alturas. Com a excepção desse meio de transporte, não interessa se é o quarto degrau de um escadote seguro, se um sétimo andar de um edifício, se uma estrada a subir, como é o caso, com uma berma profunda a perder de vista.

Os suores frios começam nas mãos e se eu não consigo controlar a coisa, levo um enxovalho no corpo e na mente, mesmo sem me mexer. Se umas vezes consigo descontrair um pouco, noutras tento aparentar a frieza não mexendo um único músculo e ainda assim, a julgar pelo cansaço, é como se fosse eu a empurrar o carro serra acima.

À parte este medo irracional e que não entendo, a sensação de ter vista a perder de vista, depois da subida, dá-me imenso prazer e é apenas por isso que me submeto à tortura de subir a uma serra, como fiz agora, Monchique acima, no lado do pendura (ainda menos controlo no processo). Correu bem: nem por uma vez me agarrei à porta até ficar com os dedos dormentes.

902 metros de altitude é, para pessoas como eu, uma prova de coragem. A última vez que tinha estado na Fóia foi há uns anos. A serra foi devassada em 2018 por um daqueles incêndios horríveis que decerto vocês se recordam – 8 dias a arder, 27.154 hectares ardidos – dantesco, cruel, revoltante. Este ano, está muito mais verde, pareceu-me. Lindo. Depois de um confinamento em auto-controlo e de uma subida em modo de auto emergência, lá fui ver as coisas em perspectiva.

O “jardim do Algarve” continua ali, com 360º de vista de cortar a respiração, com todos aqueles miradouros que nos dão um ângulo de proporção: a nossa pequenez face às maravilhas deste planeta que é a nossa casa. E o nosso Algarve! Fogueiras, beatas, queimadas, ambição desmedida… deixem-se disso. E sim, o coração perdeu uma batida, mas não foi da vertigem: foi da beleza. O miradouro da Fonte Santa tem um cantinho no meu coração, apesar da palidez do meu rosto até lá chegar. O nosso Algarve é como a vida: não é todo plano.

Selma NunesMonchiqueAlgarve

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