A alimentação inadequada, com a decorrente má-nutrição, constitui a principal causa de problemas de saúde no mundo. Hoje, acima de 820 milhões de pessoas têm fome, e dois biliões de adultos e mais de 40 milhões de crianças têm excesso de peso. E desnutrição, obesidade e alterações climáticas atacam em simultâneo para produzir efeitos graves numa região ou família, sendo urgente dispor de uma estratégia que lide, de uma só vez, com essas três epidemias, intervindo nos sistemas alimentares, para melhorar a equidade social, a produção e o consumo responsável, a saúde humana e dos ecossistemas, e o desenvolvimento económico (Relatório Comissão The Lancet, 2019).
De acordo com o estudo Global Burden of Disease (GBD), em 2017, os hábitos alimentares inadequados dos portugueses foram o terceiro fator de risco que mais contribuiu para a perda de anos de vida saudável, nomeadamente devido a doenças metabólicas, doenças do aparelho circulatório e neoplasias.
A alimentação é um tema que toca a todos e a cada um de nós. Todos comemos e estamos, portanto, dependentes do acesso a alimentos saudáveis e nutritivos. O acesso aos alimentos e a qualidade da alimentação são, por isso, questões-chave do desenvolvimento humano. Uma sociedade não pode ser considerada desenvolvida se estas questões não estiverem, em grande parte, resolvidas. O acesso aos alimentos e a qualidade da alimentação (ou a sua falta) têm, por outro lado, profundas implicações ao nível da saúde pública, do bem-estar das pessoas e do capital humano, afetando, portanto, a própria capacidade de uma sociedade para se desenvolver.
A alimentação é, além disso, o principal motivo para atividades produtivas como a agricultura e a pesca, que transformam profundamente os ecossistemas terrestres, aquáticos e marinhos que nos rodeiam. A pegada ecológica e a sustentabilidade do nosso modelo de produção, transformação, transporte, distribuição e consumo de alimentos são, por isso, questões incontornáveis no debate sobre a alimentação.
A sustentabilidade alimentar tem ganho cada vez mais peso em todas as classes profissionais do sector, com vista à disponibilização de opções mais sustentáveis ao consumidor e de forma a consciencializá-lo para opções alimentares mais sustentáveis. Importa referir que opções mais sustentáveis poderão ter um impacto a nível ambiental, social e económico, os três eixos principais da sustentabilidade.
Por outro lado, a globalização, a mudança nos modos de vida e a dinâmica tecnológica deram origem a novos problemas e requerem novas soluções. As soluções para o futuro têm de ser reinventadas, no contexto global, regional e local, com realismo e com o apoio da moderna ciência e tecnologia. A cultura, a tradição e os modos de alimentação e de produção de alimentos do passado e do presente constituem, no entanto, recursos cuja reinterpretação são claramente soluções de futuro. Um exemplo disto é o padrão alimentar característico do espaço mediterrânico “Dieta Mediterrânica”, que se desenvolveu de forma adaptativa, conseguindo assegurar uma oferta nutricional de qualidade num contexto geográfico e socioeconómico de poucos recursos.
Já a variabilidade climática e o clima extremo impactam de forma desproporcional as vidas e os meios de subsistência dos 2,5 mil milhões de agricultores, pessoas dependentes das florestas, pastores e pescadores do mundo, cuja alimentação e renda provêm de recursos naturais renováveis. Um dos efeitos mais diretos está na disponibilidade de alimentos e acessibilidade para as pessoas pobres e rurais. Pesquisas indicam que níveis aumentados de dióxido de carbono na atmosfera estão reduzindo os níveis de nutrientes, como zinco, ferro, cálcio e potássio, inclusive no trigo, cevada, batata e arroz (Relatório Comissão The Lancet, 2019).
A principal razão para o aumento da prevalência de obesidade e excesso de peso é a incapacidade dos sistemas alimentares de fornecer dietas saudáveis. Alimentos frescos e nutritivos podem ser caros. Se os recursos domésticos para alimentos se tornarem escassos, as pessoas podem optar por alimentos mais baratos e de alto teor calórico, com baixo teor de nutrientes…
Em suma, o futuro da alimentação passa muito pelas decisões do consumidor, que, multiplicadas por 7 mil milhões à escala planetária, se transformam na força de mudança mais poderosa.
É dentro destes pressupostos que o 9º Fórum Cidadania – “Alimentação Saudável e Sustentável: que desafios?”, se vai centrar, dando particular evidência à troca de experiências e saberes ao redor da “Sustentabilidade Alimentar”; “Dieta Mediterrânica”; “Identidade Alimentar”; “Cidades Sustentáveis”; “Insegurança Alimentar”; “Alterações Climáticas”; “Sociologia e História da Alimentação”; “Sistemas Alimentares Locais”; “Hortas Comunitárias”; “Gastronomia”; “Culinária” e “Educação para a Saúde”.
Programa e convidados:
Sistemas alimentares, gastronomia local e hortas comunitárias
// Noélia Jerónimo (Chefe de Cozinha)
// Arlete Rodrigues (Prato Certo – Associação in LOCO)
Identidade alimentar e cidades sustentáveis
// Dra. Ana Helena Pinto (Nutricionista, Nutrition for Happiness)
Tradições/Sociologia e história da alimentação
// Prof. Doutora Maria Manuel Valagão (Investigadora, Consultora, Autora e Coordenadora de diversas publicações ligadas à natureza, gastronomia e lazer)
// Alexandra Santos (“Festival da Comida Esquecida”, Cooperativa QRER)
Reflexões sobre sustentabilidade alimentar, dieta mediterrânica, insegurança alimentar e alterações climáticas
// Prof. Doutor Pedro Graça (Nutricionista, Diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto)
Educação Alimentar e Educação para a Saúde
// Prof. Doutora Teresa Sofia Sancho (Coordenadora PNPAS Algarve e Nutricionista do Departamento de Saúde Pública e Planeamento da ARS Algarve)
Moderação
// Dr. Pedro Santos (Nutricionista, Formador e Consultor em Alimentação)
CEA Tavira