Este ano não vou falar na alegria que me dão as luzinhas de Natal quando as ruas estão desertas de pessoas: andamos todos na rua sem grandes restrições e não parece que tenhamos de trocar compotas no vão da escada outra vez. O meu vão de escada é frio e eu não sei fazer compotas, só comê-las. Por isso ainda bem que este ano há vacinas e uma grande parte da população vacinada.
Para quem ainda não sabe o que oferecer a qualquer negacionista das suas relações, recomendo um saquinho de autotestes e uma mordaça que também sirva de máscara. Penso que será um kit essencial para a convivência e é o que podemos chamar de prenda útil e simultaneamente esclarecedora, prova irrefutável de boa vontade e carinho próprios do espírito natalício, além de uma breve demonstração simbólica de um modo díspar de ver o mundo. E é um presente inclusivo! Mesmo que a ideia não seja de inclusão, pode ser dado o presente no vão de escada. Frio. Com ou sem compota.
E se acharem o presente pouco democrático, encolham os ombros e digam: “a maioria ganha e a maioria tem certificado.”
Enquanto abandono a ideia de colocar o Certificado de Vacinação emoldurado à porta do apartamento, numa daquelas molduras com a rena Rudolph com nariz vermelhinho acompanhada de elfos de chapéus pontiagudos a desejar “Merry Christmas” em inglês, dou por finda esta crónica, já mais natalícia, na qual não reclamo de nada em especial, a não ser de algumas pessoas obtusas.
Sejam pessoas próximas das outras pessoas a distâncias de segurança razoáveis, na estrada, ou não, sejam decentes para com quem está a trabalhar, esqueçam os complots internacionais para dominar o mundo e tenham cuidado com os açúcares: fazem mal aos dentinhos e aos objectivos “fitness”. Dediquem-se a qualquer coisa, menos a vídeos de notícias falsas.
Selma Nunes