Mensagem de Natal do Bispo do Algarve no Ano 2021: “Precisamos de pontes, não de muros!”

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Meus caros diocesanos e quantos, em tempo de Natal, sentis um apelo mais forte à construção da verdadeira fraternidade humana. A todos dirijo a minha mensagem natalícia, inspirada numa imagem recorrente do Papa Francisco – precisamos de pontes, não de muros – , acompanhada pela afirmação de que Cristo é O que constrói em Si mesmo a grande ponte de comunhão plena com o Pai e entre toda a humanidade, realidade que o Natal recorda e celebra.

Aliás, o caminho do Advento é pródigo em imagens sugestivas que, pela voz de Isaías e de João Batista, nos dirigem idêntico apelo: preencher vales, abater montes, aplanar caminhos, ou seja, eliminar todos os obstáculos que possam impedir o nosso encontro com Cristo e com os que nos rodeiam.

As pontes abrem-nos aos outros e ao mundo. Os muros limitam a liberdade, anulam os sonhos, obrigam-nos a viver como prisioneiros em celas construídas por nós próprios.

Celebrar o Natal deve constituir para todos uma oportunidade para assumir a decisão de abater toda a espécie de muros, unir margens, comunicar, construir pontes, estabelecer uma relação com quem é diferente de nós, pela língua, cultura, religião… acolher e partilhar realidades novas, construir a fraternidade em todas as direções.

Este apelo do Papa Francisco adquire reconhecida atualidade neste tempo, à luz das imagens recentes sobre a construção de muros (betão, ou arame farpado), em diversos países, para impedir migrantes e refugiados de fugir a uma sucessão interminável de guerras, conflitos, genocídios, “limpezas étnicas”, que continuam a persistir no nosso tempo. Anima-os o desejo de procurar uma vida melhor, unido, muitas vezes, ao propósito de deixar para trás o “desespero” de um futuro impossível de construir.

Imagens a que ninguém fica indiferente. São famílias inteiras, homens e mulheres, crianças, jovens e idosos, que procuram um lugar onde viver em paz, muitos deles decididos a arriscar a vida, numa viagem que se revela longa e perigosa, sujeitando-se a fadigas e sofrimentos, vítimas da exploração e da instrumentalização e, infelizmente, muitos encontrando a própria morte. Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental. Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações que se vêm juntar a problemas já existentes, bem como a disponibilidade de recursos que são sempre limitados (cf. Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2018).

Reconhecendo a complexidade deste problema, admitimos que nenhum país, mesmo com as melhores condições, tem a capacidade e a possibilidade de o resolver sozinho, face à sua urgência e amplitude, na procura de uma resposta que crie as condições exigidas para acompanhar, promover, integrar quantos procuram uma vida melhor. Todos nós, cada um a seu modo e dentro do âmbito em que vive e trabalha, somos chamados a ser pontes no acolhimento de quem é diferente de nós.

A fraternidade que nos trouxe o Deus-Menino e confirmou na noite de Páscoa, com a Sua morte e ressurreição, é dom de Deus dado aos homens, para os tornar capazes de se acolherem e amarem uns aos outros, construindo um mundo mais justo para todos. Esta fraternidade é consequência da conversão do coração, não se baseando unicamente numa igualdade de direitos. Dela nasce a amizade social, que se traduz no compromisso pessoal em construir um mundo mais fraterno. Importa, como tal, assumirmo-nos como protagonistas empenhados na transformação da realidade que nos circunda.

Neste Natal convido-vos a acolher O “Menino nascido em Belém”. Com Ele será mais fácil acreditar e confiar na mudança que Deus quer operar em nós, destruindo barreiras, curando medos, desfazendo preconceitos e, sobretudo, transformando-nos em “construtores de pontes”:

  • Capazes de acolher e socorrer os mais frágeis de todas as origens e proveniências;
  • Ter comportamentos cívicos responsáveis, em tempo de agravamento da crise pandémica;
  • Ser semeadores de esperança e testemunhas da alegria como os pastores, os Magos e quantos se encontram com Cristo e o acolhem na sua vida.

Que neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade e o empenho pessoal em ser construtores da verdadeira paz.

A todos formulo votos de um SANTO E FELIZ NATAL!

Para todos invoco as bênçãos do Deus-Menino!

Convosco confio à proteção da Virgem Maria, como Mãe de Jesus e nossa Mãe, o Novo Ano que vamos iniciar.

Manuel Neto Quintas

Bispo de Faro (Algarve)BispoAlgarve

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