Os artistas do momento lá se vão enfrentando em horário nobre, dando socos no ar, não por causa do acrílico que os separa em ambiente televisivo, mas porque na grande maioria estão em combates diferentes, ou assim dizem os comentadores com poses dignas de rescaldo de derby, por todos os canais. Tenho-os visto atentamente e até tenho aplaudido alguns ganchos e entradas a pés juntos, por mais que ache que há faltas imperdoáveis neste novo desporto nacional, sempre vistas com complacência pelos moderadores.
A minha fatigada “eu” pós-laboral diverte-se puerilmente a cada tiro em porta-aviões alheio, mas no fundo, quer ser informada condignamente para poder votar em consciência. A parte responsável de mim, pensante e preocupada, preferia que nos debates houvesse mais que chavões ideológicos em directo, sem tempo de desenvolvimento. Preferia que os modelos de debate não transformassem o sistema democrático num circo, ou num concurso de talentos cronometrado.
Como portuguesa e como algarvia gostava de saber (e é aí que me vou tentar informar no caso de estar em dúvida) o que cada partido pretende levar para a Assembleia da República e o que os seus deputados irão defender quando e se lá chegarem, e escolher de acordo.
No fundo, não estamos a votar directamente na liderança dos partidos, nem estamos a escolher o Primeiro-Ministro, como parece nos debates, estamos a escolher quem nos representa por lá. Eu não esquecerei de tentar perceber quem tem, afinal, soluções concretas para os problemas de mobilidade, saúde, empregabilidade, custo de vida e sazonalidade do país e principalmente da nossa região, porque no final, para a minha vidinha, isso interessa mais do que ter sido entretida pelos derbies de socos no ar televisivos a que temos vindo a assistir. E num ano de inflação e crise económica pós pandémica (se é que é pós pandémica mesmo) é essa a informação que faz a diferença na minha vida e provavelmente, na vossa. Pensem, escolham e acima de tudo, votem, na democracia e pela democracia.
Selma Nunes
