O concelho de Monchique foi criado por assinatura do rei D. José I em 16 de janeiro de 1773, completaram-se 249 anos. Até essa altura incluía-se no dito “termo” de Silves e contribuía para o sustento da Casa da Rainha, ou seja, as rainhas de Portugal tinham orçamentos próprios e as verbas oriundas desta serra faziam parte desses rendimentos. A sua desanexação foi levada a cabo no tempo em que governava Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como marquês de Pombal que fez com que o novo concelho passasse a contribuir para a Coroa, isto é, os rendimentos fiscais monchiquenses começaram a ser destinados aos cofres nacionais e já não para custear os gastos da parte feminina da corte.
Esta ação da criação do concelho de Monchique e do concelho de Lagoa, no mesmo dia e incluídos no mesmo documento oficial não surgiu por acaso. Fez parte de um projeto maior muitas vezes designado como restauração do reino do Algarve e que pretendia tornar a região meridional do território continental português mais rica, mais dinâmica e mais contributiva para o país. No século XVIII havia um enorme atraso especialmente económico e era Espanha que se ia aproveitando do que os algarvios, especialmente a sotavento e nas pescarias, produziam. Lisboa aplicou-se então numa atitude fortemente reformista em relação à propriedade fundiária, à agricultura, às pescas, ao comércio, à reorganização administrativa do território com a criação de concelhos e freguesias e a extinção de outros e até a proposta de criação de uma segunda diocese sediada em Portimão, de forma a afirmar a soberania portuguesa por inteiro nesta região.
Nestes contextos todos, aliviaram-se impostos dentro das fronteiras a estimular o comércio interno e chegou a proibir-se a exportação de peixe fresco, por exemplo. Espanha retaliou com aplicação de impostos fortes nos produtos que Portugal exportava, como uma taxa absurda de noventa e dois por cento nos salgados como atum, sardinha e outros peixes. O Governo isentou de impostos totalmente esses peixes em todos os portos portugueses, trouxe homens de negócios do norte para aplicar capital e organizou um consórcio de sociedades portuguesas em Monte Gordo formada pela Companhia das Vinhas do Alto Douro e pela Companhia das Reais Pescarias do Algarve de que foi nomeado gestor um homem de Monchique, José de Almeida Coelho, que veio a presidir à recém-criada Câmara serrana e era monopolista das madeiras de castanho algum tempo depois na construção de Vila Real de Santo António.
Duzentos e quarenta e nove anos depois há várias lições que se aprenderam e alguns paralelismos com a situação atual que não podem ser ignorados. Algum atraso estrutural e empobrecimento das populações até pela sazonalidade, uma nova gestão local que precisa de ser apoiada e entendida, a possibilidade de se aproveitar fundos para desenvolvimento e recuperação da economia, uma ideia de descentralização quase apontada para a regionalização nunca plenamente conseguida e que pela ação humana inteligente pode consolidar-se.
Nunca como neste momento houve condições para uma restauração do reino do Algarve entendida à luz de uma república que se rege por uma constituição que garante sem margem para dúvidas a unidade e integridade nacionais.
Aquela figura de estilo vai ser aplicada em Monchique ao longo do ano, a partir deste dia 16 de janeiro, para servir de mote a iniciativas diversas. O município e as freguesias vão empenhar-se para que todos possam sentir a importância de assinalar duzentos e cinquenta anos com música, edições, exposições, palestras, seminários, pequenos e grandes gestos de parcerias, investimentos, obras de fundo.
Vamos estar atentos e participativos e fazer com que este ano se torne um grande desígnio para todos os monchiquenses.
Mun de Monchique