Ressacados por terem sido enleados nas sondagens que acertaram em praticamente nada, os opinadores prevêem verborreias aguerridas e sanguinárias na nossa Assembleia. Destilação de veneno puro, em forma de ar expelido a berro, devido ao crescimento do extremo direito que sendo anti-sistema, está à direita da direita, (lá ao fundinho, não há nada que enganar) e sonham ir sempre em frente, à cotovelada, se necessário. Isto, a acontecer na casa do diálogo, entristece-me profundamente.
É provável que os comentadores e analistas tenham razão nesse aspecto. Posso dizer o quanto me incomoda o aumento daquele partido extremo no nosso país. Incomoda-me sobremaneira. Quem me vai lendo adivinha a tristeza que me dá ver o nosso Algarve metido nisto, assim.
Apesar da vitória de um dos partidos democráticos com maioria absoluta, esse partido anti-sistema (mas que se alimenta do sistema) conseguiu convencer 23.988 algarvios e algarvias, ou seja, cerca 12 em cada 100 pessoas que votaram.
E nem me venham dizer que é um voto de protesto: quem votou sabe muito bem no que votou – votou contra o sistema democrático. Teremos de respeitar essas escolhas, como é óbvio, mas não vale a pena dourar a pílula: há 23.988 algarvios que gostam de quem discursa assim e acha bem que umas pessoas sejam consideradas superiores às outras por nascimento, ou porque sim.
Pior que o número 23.988 é acreditar que as pessoas votam em partidos da extrema-direita só porque estão aborrecidas com a vida. Não acredito nisso. Sabem, sim, o que estão a fazer.
Quem é democrata a sério sabe que o “sistema” não serve para ser abanado, tremido, arrasado para demonstrar revolta. Serve para garantir liberdades, direitos e deveres fundamentais a todos as pessoas em território nacional. Serve para escolher quem gere o nosso dinheiro e onde o investe, tendo impacto directo nas nossas vidas.
A arma contra o que está a acontecer é ir votar na democracia, sempre, para que não passem, porque se passarem, a culpa é, acima de tudo de quem é democrata e resolve fazer outra coisa qualquer nos Domingos em que há eleições, por achar que não faz diferença. Faz, sim. Cada vez mais. 23.988 pessoas do Algarve votaram na extrema direita. Se passarem, nem nos cafés vais poder reclamar.
Selma Nunes