Um local de memórias que foi alvo de uma obra exemplar de requalificação patrimonial, a pensar nas novas gerações e na dinamização cultural da cidade. São estes os pressupostos da nova sede da Casa da Cultura de Loulé, inaugurada esta segunda-feira, no mesmo local onde no passado funcionou o Atlético Sporting Clube.
E não é por acaso que o Município de Loulé escolheu o 48º aniversário do 25 de Abril para assinalar este momento já que, para a comunidade local, este é um espaço que remete para o contexto dos derradeiros anos do Estado Novo e período revolucionário. Foi um “palco de acontecimentos da conspiração democrática” por parte de um grupo de jovens que encontraram aqui o lugar para colocar em prática as suas ideias e ambições culturais, “consideradas subversivas aos olhos do regime”, como recordou Sérgio Sousa, responsável da Casa da Cultura.
O salão principal do edifício voltou a encher-se de pessoas e foram muitas as memórias partilhadas nesta tarde, desde logo pelo autarca Vítor Aleixo, também ele um frequentador do espaço e dos “bailes, leituras, audições de música, preparação de peças de teatro, muita discussão de política e cultura”. “Vínhamos para aqui, ouvíamos o Zeca Afonso, o Adriano Correia de Oliveira, e tantos outros. Lembro-me da representação da peça “O Avejão”, do Raul Brandão, comícios do Movimento Democrático Português, antes e depois do 25 de Abril, a representação do Auto do Curandeiro do António Aleixo. Organizámos contra o status quo social e político da cidade um Carnaval independente. Fomos irreverentes, desobedientes”, recordou o responsável municipal.
Foi igualmente aqui, numa sala no piso superior, que foi escolhido João Barros Madeira para presidir à Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Loulé no período subsequente à Revolução, em que pela primeira vez os destinos do Município eram geridos em democracia.
Mas se o resgatar do passado esteve presente nesta intervenção, foi também com o pensamento nas novas gerações que foi levada a cabo a obra. “O edifício foi recuperado exatamente para que as memórias possam dar lugar ao futuro porque o futuro acontece com vigor, com juventude, com criatividade, mas ele acontece sempre melhor quando assenta nas memórias que são herdadas por cada geração”, sublinhou o autarca.
Da parte da Casa da Cultura de Loulé há a garantia de responder da melhor forma ao desafio de dinamizar o local. “Iremos trabalhar para reforçar a função da Casa da Cultura enquanto espaço/plataforma de criação, capacitação e produção na maior diversidade possível de áreas da cultura, do desporto e da cidadania”, reafirmou o presidente desta associação cultural, nascida há 43 anos, precisamente no dia 25 de abril, e que tem sido “uma ‘escola’, um espaço de criação, germinação e desenvolvimento de processos culturais e sociais”.
Com um investimento de 360 mil euros, a obra levada a cabo neste imóvel localizado na Rua 5 de Outubro (Rua das Lojas) é mais uma ação de reabilitação e de recuperação do património do concelho de Loulé. “O património é a nossa identidade, faz parte das nossas memórias mais pessoais. As pessoas ligam-se afetivamente aos seus espaços citadinos, quer no espaço público, quer num espaço interior como é o caso e esta é uma linha da nossa gestão autárquica”, disse Vítor Aleixo.
A reabilitação de edifícios e espaços emblemáticos como o Cineteatro Louletano, o Mercado Municipal, a Praça da República, o Palácio Gama Lobo ou o Solar da Música Nova, e na mesma senda, a inauguração, no próximo mês de maio, dos Banhos Islâmicos, além da obra que ainda decorre na Igreja Matriz de Loulé, são exemplos “de uma aposta consistente que vai colocar Loulé no mapa do turismo cultural”.
Recorde-se que a obra do antigo Atlético passou pela adaptação do segundo piso do edifício a um espaço polivalente direcionado para atividades de índole cultural, mantendo as características e o máximo aproveitamento dos elementos existentes, dotando-o de boas condições de utilização a nível estrutural, de salubridade e de conforto. Através de uma abordagem contemporânea, conciliando valores patrimoniais e simbólicos, pretendeu-se dar resposta aos novos requisitos funcionais de um espaço ligado à cultura.
CM Loulé