Ordem dos Psicólogos lança campanha ‘.(ponto) final à pobreza’

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. Portugal é um dos países com uma taxa de pobreza acima da média da OCDE

. Pandemia terá provocado um aumento de 25% da taxa de pobreza

. Em 2021, a linha de pobreza em Portugal situava-se nos 540€ de rendimento

. 700 milhões de pessoas no mundo estão em situação de pobreza extrema

. Em 2030, cerca de 167 milhões de criança viverão na pobreza

Perante números tão impactantes, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) lança a campanha “Ponto Final à Pobreza”, que visa recolher contributos dos psicólogos para combater este complexo problema da sociedade. São ainda lançados um novo site e um novo documento, focados no papel que a ciência psicológica e os psicólogos podem ter, tanto no apoio direto como na construção de políticas públicas e respostas integradas.

Lisboa, 24 de junho de 2022 – Portugal é um dos países da Europa com maiores desigualdades económicas internas (2.6 pontos percentuais acima da média da OCDE) e com uma taxa de pobreza acima da média, segundo a introdução do documento “Ponto Final à Pobreza”, divulgado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. A crise socioeconómica provocada pela pandemia agravou o cenário e aumentou a taxa de pobreza em 25% (que representa mais 400 mil pessoas abaixo do limiar de pobreza) e a desigualdade em 9%.

Neste contexto, a ciência psicológica e os seus profissionais têm um lugar privilegiado para apoiar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no que diz respeito à erradicação da pobreza. Além de estudar a experiência das pessoas em situação de pobreza e prestar apoio em situação de maior vulnerabilidade psicossocial, os psicólogos podem sustentar a construção de políticas públicas e respostas integradas que visem o combate à pobreza, a redução das desigualdades e a melhoria de condições de vida. A Ordem dos Psicólogos Portugueses começa hoje a recolher o contributo de todos os psicólogos em Portugal no site www.finalapobreza.

Com esta campanha, a OPP pretende, através da disponibilização de um conjunto de recursos e da promoção de um conjunto de iniciativas, recolher contributos para o desenho e posterior implementação de um plano estratégico de ação da profissão nesta área em quatro áreas chave: sociedade civil, decisoras e decisores, profissão e cooperação nacional e internacional.

Situação de pobreza

A pobreza é um «fenómeno multidimensional caracterizado por uma privação sustentada ou crónica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder necessários para ter o padrão de vida considerado socialmente aceite numa determinada sociedade», explica o documento, lançado esta sexta-feira. Nesse sentido, a pobreza abrange mais pessoas do que as que são classificadas como pobres, porque vai além da ausência de recursos materiais, estendendo-se à escassez de capital humano (educação, experiências pessoais), capital social (rede de relações sociais) e capital de saúde (bem-estar físico e mental). Distinguem-se ainda os conceitos de pobreza extrema (não há recursos suficientes para necessidades básicas) e pobreza relativa (padrão de vida e rendimentos abaixo do nível de vida do país).

A medida de pobreza mais utilizada é a percentagem da população que se situa abaixo da linha de pobreza. Em 2021, essa linha em Portugal situava-se nos 540€ de rendimento, considerando-se em risco qualquer pessoa com rendimento abaixo desse valor.

É importante frisar também que a pobreza não é uma realidade estática e que a intergeracionalidade é um traço relevante, uma vez que o ciclo de pobreza persiste durante várias gerações.

A pobreza pode gerar muitas vezes desigualdades verticais (estrutura social) ou horizontais (afetam como parte de um grupo como género, etnia ou idade), que afetam de forma negativa o bem-estar e a qualidade de vida, e levam à exclusão social.

Pobreza em Portugal e no Mundo

O documento alerta que a pobreza é um problema global, persistente, sistémico, multifacetado e de amplo alcance, que coloca em risco direitos fundamentais com a saúde física e psicológica, o bem-estar e a qualidade de vida.

Atualmente, mais de 700 milhões de pessoas – que corresponde a 10% da população mundial – vivem em situação de pobreza extrema. Nos últimos 15 anos, a taxa de pobreza infantil cresceu em alguns países da OCDE – incluindo Portugal -, e estima-se que em 2030, cerca de 167 milhões de criança viverão na pobreza. Portugal é um dos países desenvolvidos onde é mais difícil sair da pobreza e a pandemia veio agravar as desigualdades, pondo mais de 400 mil pessoas abaixo do limiar de pobreza.

Neste momento, a taxa de pobreza em Portugal situa-se nos 23% e entre os grupos de maior risco estão as crianças (16% das crianças em Portugal) e a população mais velha (17,5% com mais de 65 anos vivem em situação de pobreza).

Impactos da situação de pobreza no bem-estar e nos problemas de saúde psicológica

A saúde psicológica é impactada pelas condições sociais, ambientais e económicas, sendo que a experiência da pobreza influencia negativamente a forma como se pensa, sente e age. A pobreza afeta as pessoas a vários níveis e de várias formas e pode causar impactos cognitivos e emocionais, impactos no desenvolvimento e saúde psicológica, impactos na estigmatização e exclusão social, impactos na empregabilidade e impactos no envelhecimento.

O papel dos psicólogos e psicólogas no combate à pobreza

Os psicólogos podem dar um contributo fundamental como agentes da mudança, a favor da justiça social e económica. A ciência psicológica tem contribuído para compreender a pobreza, as desigualdades e os seus impactos negativos nas pessoas com intervenções que trabalham várias competências. Por outro lado, também chama a atenção para a importância de contruir políticas públicas que mitiguem os determinantes socioeconómicos das situações de pobreza.

Nas duas dimensões de atuação, os psicólogos podem ser agentes da mudança a favor da justiça social e económica, em contexto de saúde, comunitário, educativo, organizacional, na construção de políticas públicas, junto dos media e na investigação.  

A situação de pobreza condiciona a possibilidade de desenvolvimento pleno da pessoa, a sua dignidade, o seu florescimento, a saúde mental e o bem-estar. Os psicólogos podem dar contributos determinantes para combater as situações de pobreza e refletir, desenhar e implementar abordagens integradas e transversais.

Veja o documento: Aqui

ADBD