Na academia portuguesa, as instituições sabem da importância de criar unidades dedicadas à ligação com o mercado de trabalho. Afinal, o seu sucesso afere-se em boa parte pela inserção dos seus graduados no mercado de trabalho, o que depende em larga escala da notoriedade granjeada nos rankings nacionais e mundiais de ensino superior.
Mas à margem da notoriedade das instituições, que quanto maior é, mais solicitações tem por parte das empresas ainda antes dos estudantes terminarem a sua formação, é na real ligação com o mercado de trabalho que se detetam os perfis dos jovens talentos.
Nesta tarefa de caça-talentos, a parte mais óbvia é que há uma nova leva de recém-graduados que é oportuno contactar se a intenção é investir em equipas inovadoras que aportem valor às empresas. A mais difícil é perceber se o potencial de um perfil contactado preenche o alinhamento de propósito da empresa e do candidato e faz um match eficaz.
A Adecco Portugal sugere que numa primeira abordagem, os recrutadores olhem atentamente para as experiências formais e informais, à margem do percurso académico, que um jovem inscreve no seu CV ou redes sociais. É um primeiro aporte para avaliar os interesses e muitas das soft skills de um candidato, antes da validação por entrevista.
GERAÇÃO Z CONSCIENTE DA IMPORTÂNCIA DAS EXPERIÊNCIAS EXTRACURRICULARES?
Inês Sá, vencedora em 2022 do programa internacional do Grupo Adecco ‘CEO for One Month’ para Portugal, tem um perfil diferenciador. Olhando para o seu CV, destacam-se experiências internacionais paralelas aos estudos, que datam do secundário.
Terminado o segundo ano da licenciatura em Gestão, na Universidade do Porto, a jovem mirandelense de 22 anos já tem um CV recheado de atividades: quando se candidatou para o ‘Women2Women’ (W2W | Rede internacional de liderança feminina), em 2018, estava a acabar a escola secundária, prestes a mudar de cidade (e de vida) para ir estudar na faculdade. “Na altura, a única realidade que conhecia era Mirandela e tinha o sonho de viajar, conhecer outras realidades, outras pessoas, abrir horizontes. No W2W tive a oportunidade de conhecer mais de 100 jovens mulheres líderes e empreendedoras de todo o mundo, o que me fez criar uma network bastante internacional e diversificada”, conta Inês Sá.
Participar neste programa foi o “abrir portas” para todo um novo mundo de programas internacionais similares e que dá a Inês “combustível necessário ao meu crescimento”. Seguiu-se a participação num training course do ‘Cartão Jovem Portugal’, duas participações no ‘Youth Changes’, em Espanha a par do bichinho do associativismo estudantil, que abandona agora na Faculdade de Economia do Porto, para partir para mais uma experiência internacional, desta feita em contexto académico, no âmbito do Programa Erasmus.
Envolveu-se em todas estas atividade porque gosta das experiências, da dinâmica entre pessoas e de “pôr a mão na massa”, mas a noção da importância que estes projetos têm para os empregadores só surgiu quando entrou na Faculdade de Economia. “Mal entramos, somos incentivados a participar em organizações estudantis e a desenvolver as nossas soft skills. Os nossos professores também sublinham a importância de nos destacarmos pelas nossas soft skills, a par do desenvolvimento das hard skills”, conta Inês. Hoje, tem a perfeita noção de que todas as experiências que tem vivido “me fizeram crescer, perceber a importância do trabalho em equipa e de ouvir os outros, e acima de tudo, do brio que devemos ter em tudo que fazemos”.
De acordo com Alexandra Andrade, Country Manager da Adecco Portugal, a escolha de Inês Sá como ‘CEO for One Month 2022’ não é de todo alheia à bagagem extracurricular da jovem: “Num Programa que é exigente, com várias fases, locais e internacionais, que consistem em desafios quer em termos de desenvolvimento de trabalhos, de exposição e demonstração do que é precisamente a aprendizagem diária de um gestor, um currículo como o da Inês destaca-se de imediato entre centenas de candidaturas. É demonstrativo de interesse, proatividade, curiosidade, garra, capacidade de aprendizagem, socialização, entre outras soft skills que são difíceis de detectar no menu de experiências de um jovem que não tenha nada no seu percurso além do caminho académico. Claro que há que validar estas skills noutras fases do percurso do Programa ‘CEO for One Month’ e que nos levou a escolher a Inês Sá como a vencedora nacional do Programa internacional do Grupo Adecco”.
Alexandra Andrade crê que o processo de seleção, mesmo num contexto de escassez de talento, é fundamental para garantir o match do candidato certo para a posição certa. “As competências individuais acabarão por ser determinantes no alinhamento de propósito dos candidatos e das organizações e o sucesso é, cada vez mais preponderante, quando se conjugam as expetativas de ambas as partes.”
Agora, a grande questão: a sua empresa está preparada para atrair a ‘nata’ do talento jovem?
A SUA EMPRESA REÚNE UMA OFERTA ATRATIVA PARA CAPTAR OS MELHORES TALENTOS DO MERCADO?
No atual cenário em que a oferta de talento é escassa e a procura é muita, é útil saber o que atrai um perfil diferenciado como o da Inês Sá. No contexto atual, ainda antes de terminarem o seu ciclo de ensino superior, os jovens são aliciados pelas empresas. Podem ter uma, mas provavelmente terão duas, três ou mais propostas de trabalho. Neste momento, o poder está nas mãos do candidato.
Da pandemia emergiu um novo paradigma de trabalho, marcado pela flexibilidade, pela maior importância atribuída à saúde mental, onde é fundamental equacionar a conciliação da vida pessoal com a vida profissional. Não é novidade, mas vale a pena saber o que uma jovem com high profile pessoal e académico como Inês Sá responde perante a possibilidade de ter de escolher entre várias empresas: o que pesaria na escolha?
Sem hesitações, é assim que Inês Sá define os critérios de escolha: “quando eu ingressar no mercado de trabalho, os principais fatores que vou ter em conta serão a cultura organizacional, ou seja, perceber se me identifico com o ambiente de trabalho, com os valores da empresa e com a posição. Além disso, vou também valorizar a flexibilidade, o work/life balance e a remuneração.”
Está a sua empresa preparada para acolher um perfil desta natureza? Nem todas estarão ainda, mas em nome da sustentabilidade, há que preparar o terreno. “Na Adecco, queremos unir pessoas e organizações alinhadas com o mesmo propósito, só assim podemos caminhar para a atração e retenção do talento nas organizações”, realça Alexandra Andrade. Mas tal só é possível, ressalva ainda, “se as organizações ajustarem um pacote de benefícios que são mais valorizados tanto na ótica da atração como da retenção de talento, onde entra a componente emocional da gestão de Pessoas e a perceção da individualidade/diversidade. Não é razoável oferecer viatura e um lugar de garagem para uma pessoa que valoriza a sustentabilidade e que vai para o trabalho de bicicleta, tal como oferecer apoio à infância ou cheques-cresce a quem não tem filhos”.
Alexandra Andrade resume: “É completamente verdade que as empresas têm de caminhar para um modelo de oferta de benefícios onde ‘one size does not fit all’: o verdadeiro deal breaker vai muito para além do salário financeiro. É olhar para o indivíduo, detetar as suas necessidades específicas e criar um conjunto de benefícios orientado para a pessoa”.
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