Não consigo escrever quando tenho a cabeça cheia das palavras do dia a dia. Frágeis, “kitsch”, facilmente esquecidas, essas palavras não servem para redigir uma crónica decente. Não entregam mais do que a vulgaridade que facilmente se escuta na televisão, na rádio, nas conversas de circunstância. Não dão quase trabalho, mas se forem espremidas, não têm sumo. Não obstante, mesmo vazias ocupam lugar e tempo.
Da minha parte, um “loop” laboral incessante, umas pedaladas para manter a boa energia e o sorriso no rosto, mas nem um parágrafo escrito por prazer. Pois bem, cá estou a recomeçar.
Coloco o olhar curioso no nosso Algarve pós-Covid, aberto ao turismo, cheio de gente com sede de experiências, festas e eventos que há muito não víamos e pergunto-me se seria este o burburinho pós duas Guerras Mundiais que tanto tentaram explicar. Uma espécie de rebelião boémia, uma resposta consciente à passagem do tempo e da própria vida.
Tento combater a exasperação (que me chega tão natural por trabalhar profunda e desalmadamente na “silly season”) para pensar nisto, e, evitando um encolher de ombros vazio e sem sumo, chego à conclusão de que sim, deve ser parecido. Até porque o SARS COV 2 foi combatido com terminologia de guerra e propaganda.
Aguardo impacientemente o “Pós-todas-as-outras-guerras” e ao mesmo tempo, sem desprimor, aguardo estoicamente a minha vez de gozar o tempo, a região e os meus pensamentos sem que estes sejam interrompidos pelas múltiplas demandas. Aí, espero esquecer-me da palavra “exaustão”, que além de ser “kitsch” e vulgar, não tem lugar numa crónica decente.
Selma Nunes