Solta-Mente | Um Novo Ciclo – O Mar ainda está Chão

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Quando era mais nova esta era a época dos cadernos e dos livros que cheiravam a novo. De estojos e canetas. A ansiedade e alegria perante um futuro próximo de regresso à escola misturavam-se com as memórias recentes do cheiro do sal, do marisma e da areia molhada pela maré viva.

Uma pessoa habitua-se a viver em ciclos facilmente. E o que é certo é que de cada vez que Setembro abre as suas portas do calendário, cá estou eu, que já não tenho aulas ou cadernos novos, a pensar em renovação, o que em termos práticos não faz sentido.

Se pensar nisso, um recomeço seria mais racional a cada Janeiro, que é o início de mais uma voltinha ao astro que ainda nos doura a pele… ou a cada Primavera, em conjunto com as plantinhas e os animais. Mas para mim, não.

É em Setembro, quando as folhas de algumas árvores começam a dourar para cair, quando as primeiras chuvas em tempo ameno arrefecem o chão quente, quando os pais dão em loucos à procura dos manuais escolares, quando as noites, lá mais para o meio, começam a pedir mais que um lençol sobre a pele e quando o Sol se compromete em deitar-se mais cedo a cada dia que passa. Talvez me tenha habituado a viver nesse ciclo, como que treinada desde tenra idade. Os desafios para este ano são enormes, mesmo de televisão desligada, para a prova dos nove basta ir ao supermercado. Quanto a vocês não sei, mas eu tenciono passar de ano sem ir a exames e ficar na vossa turma. Recomecemos. A palavra-chave desta crónica pode ser “quando”, mas para mim o recomeço é agora.

Cheira a folhas secas e a maresia. Que o tempo nos ajude. O mar ainda está chão.

Selma Nunes

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