Este ano o Município de Loulé voltou a associar-se às comemorações nacionais da Restauração da Independência de Portugal, com um programa de atividades que procurou trazer à memória de todos um momento marcante para a identidade nacional. Uma homenagem simbólica à Padroeira de Portugal e uma conferência sobre o papel do Algarve nesta luta pela independência marcaram a manhã.
As celebrações arrancaram com o hastear da Bandeira Nacional, junto à Muralha do Castelo, onde a Banda Filarmónica Artistas de Minerva interpretou o Hino Nacional e o Hino da Restauração, numa alusão ao fim dos 60 anos de domínio espanhol. Foi no exterior da Ermida da Nossa Senhora da Conceição, espaço eclesiástico que marca esta ligação de Loulé à Restauração, que decorreram os discursos oficiais. D. João IV, aquando a consagração de Nossa Senhora como Padroeira de Portugal, mandou erigir esta Ermida, um dos ex-líbris patrimoniais do concelho.
“Comemoramos a restauração da nossa independência, da nossa soberania, da nossa autodeterminação enquanto povo, com identidade, cultura e princípios próprios. Nunca terá sido tão pertinente falar em restauração da independência como agora, quando temos uma guerra que deflagra na Europa”, sublinhou a vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé, Ana Machado. Esta responsável disse ser também este um momento de “homenagearmos os homens e as mulheres que ao longo da nossa História pugnaram pela nossa liberdade, pela nossa autodeterminação e pela preservação da nossa cultura”.
Carlos Aquino, pároco de Loulé e das paróquias que têm sob a sua alçada este património eclesiástico, nas suas palavras de saudação, referiu ser este “um dia de memória e de identidade”. Mas para o representante da Igreja nem sempre é dada a devida importância a esta efeméride. “Não pode ser celebrado como um dia evocativo de um património bacoco, a que a maior parte do povo dá expressão pela ausência, – é um dia para non fare niente. É preciso dar densidade e recomeço ao que seja a restauração de uma independência, dos valores de uma autonomia, da liberdade, da verdade de um povo que não pode viver submisso a qualquer poder escravizante, dominador ou soberano”, considerou ainda Carlos Aquino.
A cerimónia encerrou com a deposição de flores junto à lápide que se encontra na fachada da Ermida e que se baseia numa previsão régia de D. João IV, datada de 25 de março de 1646, que corresponde ao momento em que Nossa Senhora da Conceição, a “Imaculada Conceição”, se torna Padroeira de Portugal.
O Arquivo Municipal juntou-se a estas comemorações com a realização da conferência “O Algarve na Guerra da Restauração (1640-1668)”, apresentada pelo historiador Pedro Pires. “O Algarve, de certo modo, teve um papel secundário no que concerne à estratégia de guerra da Restauração, pela geografia que o tornava pouco apelativo para uma batalha, para uma invasão a partir do sul. No entanto nunca baixaram a guarda”, explicou o conferencista.
Nessa medida, houve na região uma preocupação com o alistamento e com a questão da própria fortificação, não só em relação aos vizinhos castelhanos, mas também com a pirataria norte-africana “que continuou a atacar as baterias de costa”. Não se conheceram batalhas dentro dos limites do Algarve, apenas pequenas escaramuças pontuais, e o maior contributo prendeu-se com o envio das sus tropas para o Alentejo, onde participaram nas mais importantes batalhas da Restauração.
No entanto acabou por ser um período “que marcou um pouco o que viria a ser o Algarve posteriormente, ao nível da organização militar, da fortificação, e é um período que acaba por ter algum interesse”.
Nesta comunicação, Pedro Pires abordou não só a parte militar do papel do Algarve na Restauração, mas focou também o impacto do conflito em termos socioeconómicos.
CM Loulé