MAP Algarve | A Importância e Relevância das Provas de Aferição

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  • Medição do sucesso ou avaliação da tensão do desconhecido.

A aplicação das provas de aferição neste ano letivo coloca, mais uma vez, a questão da importância e relevância destas provas. Este ano fomos confrontados com a novidade da sua implementação em formato digital sem qualquer tipo de planeamento. Pelo impacto causado nas nossas escolas e, em particular, nos nossos alunos, o MAP Algarve, conjunto de associações de pais e federação, não poderia deixar de manifestar a sua preocupação.

De acordo com a tutela, a implementação das provas de aferição tem a ver com a “avaliação do sistema” com a “medição do sucesso”, mais que avaliação dos alunos. O que é facto é que, com a forma descuidada da sua implementação, o não treinar das alterações, a não verificação das condições digitais, o não treinar de qualquer prova modelo, parece que estamos a procurar avaliar o impacto da “tensão do desconhecido” nos nossos alunos, com uma preocupação especial nos alunos do 2º ano.

Mas, afinal, para que servem as provas de aferição?

Segundo parece, para dar as informações às escolas, professores, encarregados de educação e alunos sobre o desempenho e nível de aprendizagem dos estudantes, permitindo, dessa forma uma intervenção pedagógica atempada, dirigida às dificuldades de cada aluno. Acrescenta-se, também, que as escolas ficam a saber quais as áreas de aprendizagem nas quais os estudantes têm mais ou menos dificuldades, dando, por isso, origem a resultados individuais e de escola.

Acreditando que há um sentimento claro das diversas comunidades educativas que há uma utilidade duvidosa das provas de aferição, para a informação que se pretende ser válida sobre a evolução das aprendizagens e sua “medição qualitativa” mais dúvidas se colocam quando se anuncia “com pompa e circunstância” a evolução da realização destas provas em formato digital. O objetivo destas provas é, na nossa opinião, posto claramente em causa, em termos de monitorização da qualidade do sistema educativo, quando:

1) Se a intenção era iniciar a aplicação destas provas em formato digital, porque é que não houve a preocupação da introdução da disciplina de TIC ao nível do 1º ciclo ou, no mínimo, ao nível do 2º ano (ano de realização de prova de aferição), como disciplina suplementar ou, mesmo, como atividade de enriquecimento curricular obrigatória. Não estamos perante uma inversão de prioridades?
2) Foram dados dois dias úteis às escolas para pôr em prática o “manual de instruções” para a realização das provas em formato digital, quando na maioria das escolas não existem técnicos informáticos para instalar e testar as aplicações, sobrando para os professores este trabalho a realizar em todos os equipamentos a serem utilizados pelos alunos, “online” e “offline”.
3) O manual diz ser “fundamental” que a decisão entre a realizar as provas “online” e “offline” seja baseada em “testes reais com o máximo de alunos previstos” e não numa mera opinião, ainda que informada, que é o que pode resultar de dois dias úteis dados para implementação.
4) As escolas não foram informadas “em tempo útil” da mudança para uma versão digital das provas de aferição, com tudo o que isso implica.
5) Este ano mais de 250 mil alunos (2º, 5º e 8º anos) vão realizar as provas em formato digital, o que significa instalar a aplicação (por muito fácil que seja) em 250 mil equipamentos, sabendo que a maioria destes equipamentos está em casa dos alunos.
6) Quando é que seria suposto instalar a aplicação? Em que tempo? Que professores foram pensados para realizar a tarefa? De que forma?

Nesta altura, digitalizar as provas demonstra um enorme afastamento em relação ao que se passa na realidade nas nossas escolas, esquecendo-se, para além de um planeamento deficitário da sua implementação, de prever o tempo que deveria ser gasto, particularmente ao nível do 1º ciclo, num ano fundamental, que deveria ser de recuperação ( e desenvolvimento) das aprendizagens ao nível da linguagem oral e escrita, para acostumar os alunos com os computadores, tentando que se tornassem suficientemente habilitados para fazerem uma prova de aferição, de forma autónoma, num formato nunca antes testado.

A questão da implementação das provas no 1º ciclo é aquela que mais dúvidas suscita, não só, quanto à sua pertinência e importância e, mais ainda, dos resultados que daí possam advir. Terem acesso aos tablets, aos telemóveis, aos computadores e com eles jogarem, será que garante a necessária literacia digital para a realização destas provas? Não nos parece! Deveria ter sido planeada a melhor forma de implementar as provas digitais: primeiro ensinar, depois praticar e, finalmente, testar.

Será que a implementação em formato digital não deveria ter sido adiada, por um ano, de forma que estivessem reunidas todas as condições para o sucesso da mesma? Porquê antecipar o formato digital das provas, quando o investimento previsto via PRR (12 milhões de euros) previa 2025 como data de implementação do formato de todas as provas e exames?

Percebendo dos pressupostos, percebendo das inovações que se pretendem implementar, percebendo o que estava em causa com as mesmas e suas implicações, particularmente com os nossos alunos, não percebemos, ainda assim, a teimosia da sua implementação desta forma não haverá nunca condições para avaliar de forma objetiva o sistema educativo e os processos de aprendizagem e quais as oportunidades de melhoria, dada a pouca consistência dos resultados que destas provas, implementadas desta forma, poderão advir.

Um MAP responsável, como este grupo de associações e federação designado como MAP Algarve, não pode deixar de se pronunciar sobre assunto tão relevante e que põe em causa o futuro dos nossos alunos. Continua-se a insistir na realização das provas que todos reconhecem sem a relevância necessária, mas cuja tensão inicial para os nossos alunos e entropia para o sistema, acentuada, por alterações sem preparação, sem testar, são evidentes. Deixa transparecer que nada mais parece avaliar que a tensão dos nossos alunos pelo desconhecido e, muito menos, “uma avaliação do sistema educativo” pois, põe em causa, na forma, a estabilidade emocional dos nossos alunos e, assim, esse sucesso que se pretende monitorizar.

O MAP, e o MAP Algarve em concreto, imbuído de um objetivo maior, vem manifestar a sua preocupação e a importância de que as alterações, as provas, em nome do superior interesse das nossas crianças e jovens, devem ser pensadas e planeadas de forma a tentar que o sucesso educativo e o bem-estar das nossas crianças e jovens seja um facto. E quando a digitalização for implementada nos exames do 9º, 11º e 12º ano com implicações ainda mais evidentes no futuro dos nossos alunos? O MAP e a sua confederação precisam de ter uma preocupação clara, não pela transição do digital que todos defendemos, mas na forma de implementação que a nada defende.

MAP Algarve

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