As Carpideiras, mulheres experientes em chorar e honrar mortos, são chamadas às Ruínas Romanas de Milreu, um dos mais importantes sítios arqueológicos do período romano em Portugal.
Uma funcionária da área da Cultura, preocupada em tornar este monumento nacional inclusivo e confortável para todxs, pede a três carpideiras que mostrem devoção aos escravos que, em tempo antigo, serviram os proprietários do que então era uma majestosa villa romana, com hortas, pomares, celeiros, lagares, termas, templo, e uma rica casa de habitação.
A funcionária da Cultura espera que o rito das carpideiras garanta que as almas dos escravos não abandonam os túmulos, invadindo o lugar, por vingança contra o esquecimento dos que cá andam hoje a usufruir do que resta da pequena cidade romana no meio do campo. A funcionária da Cultura preferia que as lágrimas fossem romanas, caídas das faces de carpideiras vindas de Roma, mas a carência de verba obriga-a a recorrer a três carpideiras que choram habitualmente na região do Algarve.
As Carpideiras é um projecto de criação na área das Artes Performativas que investiga uma figura particular da cultura popular: a carpideira – profissional do pranto, das rezas e canções, presente em diferentes épocas e geografias, paga para dramatizar publicamente a convulsão de emoções sentidas perante a morte (por quem falece e por quem vive). Imaginando que a eficácia do rito de carpir um morto depende de uma postura física, de uma expressão vocal ou disposição emocional, adequadas à identidade do defunto, ao lugar onde decorre a lamentação e ao pagamento recebido pelo serviço prestado, as artistas Marta Gorgulho (Teatro), Neusa Dias (Teatro) e Sara Martins (Dança), co-criadoras e protagonistas de As Carpideiras, concebem performances teatrais em que um espaço ou problemática definem a direcção da dramaturgia, sem que isso constranja as ideias artísticas, mas antes as provoque.
A participação no programa cultural DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos, promovido pela Direcção Regional de Cultura do Algarve, este ano com o tema Patrimónios (des)confortáveis, leva agora as três artistas algarvias às Ruínas Romanas de Milreu. A elas se junta a artista Raquel Ançã (Teatro) da Panapaná – Associação Cultural e Recreativa, no papel de “funcionária da cultura”, anfitriã do evento, cujo interesse parece exceder a preocupação em não deixar cair nas margens da memória colectiva os servos que trabalharam e morreram na villa romana, mão-de-obra essencial para a produtividade e manutenção desta grandiosa propriedade senhorial rural.
“AS CARPIDEIRAS“, nas Ruínas Romanas de Milreu – Estoi, dia 8 de Julho, sábado às 18h00.
Entrada livre
Inscrição prévia: [email protected] | 966 668 032
Co.N125