Solta-Mente: à mente solta por todo o lado

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À mente solta número um: Há duas guerras na televisão todos os dias. Ambas tomam proporções mundiais e nenhuma é a guerra mundial que devia estar a ser travada – pelo planeta. Como os músicos no filme “Titanic”, que conscientes da desgraça, continuam a tocar no meio do caos que sucede à sua volta. Nós cá vamos comentando a publicidade nos intervalos das notícias. Maioritariamente: bancos, supermercados e carros elétricos. Está a chegar a altura dos perfumes misteriosos.

À mente solta número dois: O Algarve tem muitas dificuldades em captar água. Após chuvas intensas também parece inegável que a vista mar, vista rio, vista ria e respetivas estradas permeabilizam os valorizados terrenos, tornando as cidades uma espécie de breves piscinas públicas, inundadas em tudo o que fica contido e que não consegue escoar. Nestas chuvas, muita gente perdeu muita coisa, inclusivamente o sono, as terras ficaram submersas e nem chegou aos calcanhares do que aconteceu em Valência, felizmente. Somos avisados, sim senhor, mas pelo que percebo, podíamos prevenir melhor.

À mente solta número três: Na última vez que fizeram obras na ferrovia não dormi. Foi há mais de um ano. Os comboios a passar não me acordam, mas sucede que as coisas ensurdecedoras são feitas de noite. As máquinas andaram a madrugada toda num desvario de descarrega pedras, apita máquina, gritam trabalhadores, corta aço, rebolam pedras, holofotes contras as janelas. De manhã a cidade estava ainda mais cortada pela metade que no dia anterior. Continua a não haver horários suficientes. Conduzi até ao trabalho cheia de sono. A linha ainda não está eletrificada, mas eu já dou uma volta a pé de quinze minutos para chegar até onde ia em menos de dois. Uma autêntica cidade de quinze minutos. Será que vai manter-se pelo menos a passagem de nível? E o túnel não será obviamente uma opção viável, visto que inunda com as chuvas? E as pessoas com mobilidade reduzida, como sobem estas esse túnel, em tempo seco? Já há soluções?

À mente solta número quatro: Vi nas notícias que o Governo ordenou seis semanas de ação policial para aumentar o sentimento de segurança dos cidadãos. Sou cidadã e estou igual, espero ser minoria, até porque não me estava a sentir muito insegura antes. Talvez seja porque demora algumas semanas a fazer efeito? Falando em efeito, será que a receita vai ser aplicada nos hospitais, para aumentar a perceção pública de saúde? Sou tola. Não liguem. Pelo menos os boletins são azuis para os meninos e rosa para as meninas. Se tal contribui para que alguém anteriormente inseguro, ou insegura, se sinta assegurado ou assegurada de algo, estou nessa, sou toda a favor do bem-estar e de medidas simples que façam a diferença para todos e todas.

À mente solta número cinco: A ponte para a praia de Faro lá vai de vento em popa, finalmente. Fui lá fazer uma caminhada das minhas, para arejar… e aquilo já se parece com qualquer coisa. Era para ir ver se ia ser inaugurada antes das autárquicas, mas deu-me preguiça e não fui pesquisar. De qualquer das formas sou toda a favor de pontes. São sítios arejados, melhores que muros ou tuneis. Dada a escolher, também preferia a ponte…

Selma Nunes