Solta-Mente: à mente solta por todo o lado

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Solta-Mente-Selma-Nunes

À mente solta: Luzinhas por todo o lado, vermelho, prateado e dourado, neve falsa, anúncios de perfumes misteriosos que prometem aumentar a liberdade, a atratividade, a líbido e sabe-se lá mais o quê, chocolates que nos enchem de glamour e felicidade familiar, equipamentos tecnológicos que nos vão fazer muito, muito felizes, e automóveis que nos dão superpoderes inimagináveis. No meio disto tudo estará o espírito de Natal. Longe de ser “Grinch” observo ano após ano o marketing de unhas de fora a plantar as sementes dos desejos mais íntimos nos humanos que se alienam em frente a qualquer ecrã, após um dia a dia comum. Nem vale a pena lutar. É aproveitar o passeio para interpretar a mensagem.

À mente solta: Durante o passeio publicitário noto que há marketeers que apostam em irritar severamente as pessoas. Que anúncio é aquele da gasolineira com o cartão de uma mercearia grande? Bolas que coisa repetitiva e irritante! Mas aquilo atrai consumidores? Informa? A mim apetece-me partir a televisão ao primeiro desvirtuar da 5ª Sinfonia de Beethoven. Alguém perdeu um parafuso? Aquilo não se escapa nem no meio de comprimidos para a gripe. Que me desculpe quem acha que estou a ser uma selvagem, mas só consigo imaginar duas coisas piores – coisa um: quatro mosquitos no quarto; coisa dois: uma reunião de pessoas a mascar pastilha elástica de boca aberta. É a minha opinião. Não lamento.

À mente solta: Agora que desbravámos as mensagens pouco subliminares e chegamos ao Natal propriamente dito: manda a tradição que comamos que nem uns desalmados e depois digamos que nos arrependemos nos dias seguintes. Se alguma vez me ouvirem dizer que me arrependo, é mentira. Se a tradição se mantiver, alambazei-me e soube bem. Se concordar levemente com a cabeça e um sorrisinho numa conversa dessas é sinal de empatia com a pessoa à minha frente. Se me arrependesse não cometia o mesmo delicioso erro todos os anos: teria aprendido à primeira. Entre o anúncio de um carro elétrico e um banco, lá estão as pastilhas para a azia, caso se esqueçam.

À mente solta: Depois destes preparativos todos lá vem a parte importante que é a família estar a partilhar isto em conjunto: os anúncios, os maus programas natalícios, a comida, ou o que seja: estarem juntos. O Natal começou depois do Regresso às Aulas e culmina no Natal, Natal mesmo, e este último é um bocadinho que passa num instante. Esta sou eu em excesso de senso comum na época em que é exigido muito pouco dele e escrevo obviamente da única experiência que tenho, que é a minha. Feliz Natal a toda a gente, mesmo àquelas pessoas que não o celebram.

Selma Nunes