Solta-Mente: à mente solta por todo o lado

0
455
Solta-Mente-Selma-Nunes

À mente solta: As resoluções de Ano Novo podem ser altamente tóxicas. Não passarão de boas intenções alcoolizadas se não houver a criação de uma nova rotina e se não houver já um plano de execução. Podem ser desejos (nada contra sonhar!), mas tem de haver plano, ação e vontade: o espumante e as passas não têm poderes mágicos e ninguém muda de personalidade com a passagem dos segundos. A roupa interior também não é para aqui chamada. Só para ficar assente.

À mente solta: O que te sucede é sempre responsabilidade tua e das tuas escolhas ou ações. Não dês tanto poder aos outros a ponto de serem culpados do que seja, pois nem as suas vidas controlam quanto mais, a tua. Empodera-te pelas… asneiras… que são tuas. É tão sexy uma pessoa adulta com consciência que trata da sua reciclagem interior.

À mente solta: Por falar em consciência: as pessoas andam combativas e com vontade de discutir umas com as outras por tudo e por nada e desejam fidedignamente zangar-se nas filas do supermercado, no trânsito, nas redes sociais, onde for. Talvez pelo desejo incontrolável de desabar numa pessoa desconhecida e sentir-se vivo ou viva, e como é contra alguém que não conhecem, julgam talvez que não terão grandes consequências emocionais, laborais, familiares. Andam por aí implicantes, com os ódios num sítio estranho (presos na aba das cuecas aos corações vermelhos). Se me estás a ler: se ainda tens, vá, meio chakra alinhado, sorri para essas pobres pessoas perdidas (e com roupa interior pirosa) – há quem precise do teu sorriso de compaixão. Arreganha a boca, mesmo que não mostres os dentes… e ajuda-nos a combater esta pandemia manhosa, este flagelo social. Não custa muito e é uma questão de treino, as pessoas sentem que são vistas e aumenta a probabilidade de a fila andar mais depressa.

À mente solta: Por falar em filas: nunca mais vi a fila à porta das finanças. Deve ser porque agora o fluxo de atendimento é quase todo por marcação. Agora, as filas mais longas são para as raspadinhas e Euromilhões, o que é um ganho, porque nessas filas sempre há alguma ínfima probabilidade de alguém ter sorte. É também uma perda para quem não tem sorte. Vi algures que o vício tem origem num elevador social avariado. Se está, não é no rés de chão: está preso na cave. A sorte é a melhor chance de sair dos pisos negativos, já que o esforço e o trabalho árduo não compensam monetariamente. Partilho o pensamento, pois achei interessante.

À mente solta: Como sou humana e falível, vou contradizer-me propositadamente. Talvez um dos desejos de Ano Novo seja ficar rica por sorte. Não vou responsabilizar a roupa interior se não for concedido, nem as pessoas conhecidas ou desconhecidas que se cruzem comigo. Vou culpar um -ismo qualquer que seja uma ideia abstrata, mas sem ficar muito zangada, pois sei que a culpa de não jogar… é unicamente minha.  

Selma Nunes