Solta-Mente: à mente solta por todo lado

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Solta-Mente-Selma-Nunes
  • Dá-me sempre uma raivinha remordida estar vestida como um boneco de uma conhecida marca de pneus, em que mal me consigo mexer e turistas a passear-se de calções como se estivéssemos em pleno verão. Uma pessoa aqui toda pinguça, “atchimiserável”, com o nariz assado de tanto se assoar, com cieiro até aos joelhos e esta malta a achar que temos o termóstato avariado. Mas ontem, quatro pessoas oriundas de países nórdicos queixaram-se do frio e não estavam de calções. Uma parte imaginária de mim mostrou a língua sentindo-se vingada. Só a língua porque essa parte de mim também tinha muita roupa vestida.
    • Que atire a primeira pedra quem nunca foi trabalhar ou para a escola com o pijama por baixo da roupa. Agora há roupas térmicas e essas coisas, mas nada substitui a nuvenzinha ou o ursinho com o arco-íris a verem o mundo exterior por um buraquinho da gola, uma nesguinha da manga, ou através de um fecho de uma bota alta. Não, não é chique, mas é confortável.
    • O que foi chique foi a inauguração da nova ponte para a Praia de Faro antes das eleições autárquicas (e quando só se fala de protocandidatos presidenciais) exatamente como eu não esperava. Confesso ter sido surpreendida e lá me caiu o cinismo habitual à ria. Às vezes há destas. Não fui experimentar a ponte e passar de cá para lá e vice-versa, pois sei que era fim de semana, devia estar lá meio país, mais uma ministra e eu com o pijama por baixo da roupa, podia parecer mal. Logo vou durante a semana quando vocês estiverem todos a trabalhar. Sem pijama, talvez.

    Selma Nunes